Investigação sobre incêndio na boate Kiss deve incluir poder público
Especialistas apontam que agentes responsáveis por conceder alvará e fiscalizar não estão imunes a punições
— Sem dúvida, se a boate não respeitava os parâmetros, não poderia funcionar. As características do local configuram claramente a responsabilidade do Estado por omissão — explica Fábio Souza de Oliveira, professor de Direito Administrativo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ele diz que a responsabilização por omissão ocorre quando o poder público deixa de cumprir as suas atribuições — como fiscalizar, autuar e fechar estabelecimentos irregulares — por negligência ou imperícia. A hipótese é prevista no Artigo 37 da Constituição.
O professor de processo penal da Unisinos Lúcio de Constantino aponta a tendência do poder público em atribuir responsabilidade somente aos empresários e músicos.
— Por parte de algumas autoridades, percebo o entendimento da ausência de culpa dos órgãos públicos. Se fiscalizassem como deveriam, essa casa não estaria aberta — diz.
Os especialistas não concordam com a ideia de que uma legislação federal anti-incêndio se faz necessária, tema levantado pelo governador Tarso Genro.
— Não é falta de lei, mas de aplicação da lei — resume Oliveira.
— Ao olhar as regras de Santa Maria e dos bombeiros, percebemos exigências que seriam capazes de evitar essa tragédia — reforça Constantino.
OS TIPOS DE PUNIÇÃO
* Cível — o Estado poderá ter de pagar indenizações, por dano material ou moral (devido ao sofrimento das famílias das vítimas).
* Administrativa — se a conduta do gestor ou servidor público tiver sido ilícita, mesmo por omissão ou negligência, é possível ser exonerado do cargo ou ter mandato cassado.
* Penal — tem como pena a prisão, se os envolvidos tiverem incorrido em crime.
Como aconteceu
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 235 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.
Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 235 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.
Em gráfico, entenda a sequência de eventos que originou o fogo
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