Suspeitos de incêndio em SM podem responder por homicídio qualificado
Polícia afirma ter convicção de que quatro suspeitos agiram assumindo riscos
A Polícia Civil de Santa Maria tem convicção de que os quatro suspeitos de envolvimento no incêndio da boate Kiss agiram sabendo do resultado. De acordo com o delegado Sandro Meinnerz, em coletiva realizada nesta sexta-feira, eles podem ser enquadrados por homicídio qualificado por asfixia, com a conduta de dolo eventual. O incêndio na casa noturna levou 236 pessoas à morte no último domingo.
O delegado disse que a conclusão se baseia no depoimento de testemunhas e no fato de, há cerca de seis meses, um dos proprietários da boate ter dado um entrevista a um jornal local afirmando ter 1,4 mil pessoas na Kiss, mais que o dobro da capacidade do estabelecimento. Na tarde dessa quinta-feira, a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão em uma casa de Elissandro Spohr, à procura de documentos. Até o momento, 72 pessoas foram ouvidas. Na documentação enviada pelo Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, foi encontrada uma pasta onde está escrito PPCI (Plano de Prevenção a Incêndios), porém, segundo o delegado não há assinatura de um responsável técnico. "Vamos averiguar isso", ressaltou. A Perícia não tem data para terminar, adiantou o delegado. Estão sendo colhidas, paralelamente, provas testemunhais e periciais. Técnicos da Polícia Federal se ofereceram para ajudar. Eles são especialistas em informática e farão a perícia dos mais de 60 telefones celulares encontrados no salão da Kiss. Também na última quinta-feira, a polícia colocou no ar um e-mail para que as pessoas possam colaborar nas investigações, enviando fotos ou gravações de vídeo: denunciapoliciasantamaria@gmail.com. "Resolvemos colocar este endereço no ar para as pessoas poderem coloborar conosco. Fotos ou vídeos podem ajudar e muito no inquérito", avaliou Meinnerz. A falta de segurança, de acordo com o delegado, era grande. Segundo ele, quando a fumaça tomou conta do salão, ninguém conseguiu ver nada; se havia sinais orientando a saída, eles derreteram ou não existiam. O que havia, de acordo com o delegado, eram pontos de saída, escritos em cima da porta, que com a pouca luminosidade, não havia como ver. No chão, ressaltou Meinerz, deveria haver indicações de saída, o que não existia. Além disso, destacou o delegado, se o show fosse na parte da frente da boate, o número de vítimas seria infinitamente maior. "Analisamos todos os pontos de incêndio e também a questão da segurança. Além disso, a banda usou material (sputnik) que não deveria, assumindo assim o risco", ponderou. Alguns obstáculos também fizeram com que as pessoas tivessem dificuldade em sair do local. Grades de ferro colocadas próximas à saída delimitavam a chegada e saída do público. Na hora do incêndio, elas serviram como obstáculos, fazendo muita gente cair. Na perícia, estas barras foram erguidas e foi constatado, segundo o delegado, que serviram como uma barreira. Além disso, de acordo com o chefe das investigações, as saídas de ar estavam fechadas. Segundo ele, a perícia constatou que isto ocorreu de forma deliberada. "Com isso, a fumaça não teve como escoar para fora da casa e inundou o ambiente." Outro ponto que ainda está sendo analisado é o alcance do braço do vocalista até o teto, onde estava a espuma que, ao queimar, acabou gerando gás tóxico. O delegado critica ainda a atitude do músico da banda, Marcelo de Jesus dos Santos, assim como os outros integrantes da banda Gurizada Fandangueira. "Em um primeiro momento, Marcelo tentou apagar o fogo, com não conseguiu, saiu correndo. Ele estava com o microfone na mão e poderia orientar o público a sair de forma ordeira, dizendo que tinha ocorrido um problema no local", relatou Meinnerz. A espuma não estava somente no teto. Meinnerz afirmou que ela também revestia a parede de trás do palco e os caixas, onde eram pagas as contas. Isso, de acordo com ele, era para melhorar a acústica. De acordo com o delegado, um funcionário da casa colocou o material, revelando que parte do material era novo e a outra, já usada. O estabelecimento também não tinha brigada de incêndio e, segundo foi apurado, nenhum funcionário tinha treinamento para atuar em casos como o da tragédia. |
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