Para esclarecer incêndio, IGP vai reproduzir sequencia de eventos em laboratório
Gás liberado pela queima da espuma de isolamento acústico é um dos principais objetos de investigação
A sequência de acontecimentos que originou a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, será reproduzida em laboratório para esclarecer como a casa noturna se transformou em uma espécie de câmara letal de gás. O Instituto-geral de Perícias quer saber qual foi a velocidade de propagação do fogo e o nível de liberação de elementos tóxicos desencadeados com a queima da espuma acústica apontada pela Polícia Civil como a principal causa do desastre.
Feito de poliuretano, o material de baixa qualidade presente no teto da Kiss é considerado altamente inflamável e teria liberado gás cianídrico em contato com o fogo — o mesmo utilizado pelos nazistas para exterminar judeus na II Guerra Mundial. A disseminação desse produto, 67 anos após o fim do conflito, agora deixa em situação de desespero pais, familiares e amigos de 236 mortos e 119 feridos em hospitais, que padecem pela inalação da substância incolor e inodora, mas mortífera.
A espuma, segundo o delegado responsável pelas investigações, Marcelo Arigony, potencializou o que poderia ter sido apenas um incidente:
— Isto foi a causa da morte. Onde não tinha espuma, quase não queimou.
Peritos coletaram retalhos do revestimento, conforme o delegado Sandro Meinerz, integrante da equipe de Arigony, a fim de submetê-los às mesmas condições que teriam deflagrado o drama.
Para isso, providenciaram ainda o mesmo tipo de artefato pirotécnico indicado como a origem do fogo — chamado de sputnik. O produto, aceso, será erguido a uma distância similar à que teria ficado no momento em que as chamas começaram a se propagar.
A partir desse momento, os técnicos vão cronometrar o ritmo de expansão das labaredas e medir a quantidade e o tipo de gás tóxico decorrente da queima. O resultado vai embasar com rigor científico a tese dos policiais de que o poliuretano empregado no sistema de tratamento acústico da Kiss é peça-chave para explicar o elevado número de vítimas.
A sucessão de falhas que levou ao desastre inclui outros fatores sob investigação como a superlotação no local, deficiências na sinalização e nas saídas de emergência.
Feito de poliuretano, o material de baixa qualidade presente no teto da Kiss é considerado altamente inflamável e teria liberado gás cianídrico em contato com o fogo — o mesmo utilizado pelos nazistas para exterminar judeus na II Guerra Mundial. A disseminação desse produto, 67 anos após o fim do conflito, agora deixa em situação de desespero pais, familiares e amigos de 236 mortos e 119 feridos em hospitais, que padecem pela inalação da substância incolor e inodora, mas mortífera.
A espuma, segundo o delegado responsável pelas investigações, Marcelo Arigony, potencializou o que poderia ter sido apenas um incidente:
— Isto foi a causa da morte. Onde não tinha espuma, quase não queimou.
Peritos coletaram retalhos do revestimento, conforme o delegado Sandro Meinerz, integrante da equipe de Arigony, a fim de submetê-los às mesmas condições que teriam deflagrado o drama.
Para isso, providenciaram ainda o mesmo tipo de artefato pirotécnico indicado como a origem do fogo — chamado de sputnik. O produto, aceso, será erguido a uma distância similar à que teria ficado no momento em que as chamas começaram a se propagar.
A partir desse momento, os técnicos vão cronometrar o ritmo de expansão das labaredas e medir a quantidade e o tipo de gás tóxico decorrente da queima. O resultado vai embasar com rigor científico a tese dos policiais de que o poliuretano empregado no sistema de tratamento acústico da Kiss é peça-chave para explicar o elevado número de vítimas.
A sucessão de falhas que levou ao desastre inclui outros fatores sob investigação como a superlotação no local, deficiências na sinalização e nas saídas de emergência.
Vídeos de celulares serão analisados
A reprodução vai determinar também o nível de resistência da espuma ao fogo. Revestimentos que contam com um aditivo destinado a retardar a propagação, mais caros, são mais seguros do que outros sem esse tipo de proteção. O engenheiro civil Gilmar Roth, especializado em projetos acústicos, considera, no entanto, que nenhum deles é completamente confiável.
— Não recomendo esse tipo de produto. Não é 100% seguro porque mesmo aquelas espumas chamadas antichama desprendem alguma quantidade de gás tóxico em contato com o fogo — sustenta.
Roth faz ainda um outro alerta:
— Se um tipo de adesivo não recomendado pelo fabricante for utilizado, o risco de incêndio se torna maior ainda.
O preço do metro quadrado dos melhores modelos de poliuretano com 50 milímetros de espessura e adesivo resistente ao fogo costuma chegar a até R$ 75, aproximadamente. Materiais sem as mesmas garantias podem ter custo a partir de R$ 45.
Integrante da comissão encarregada de periciar as condições de segurança no local da catástrofe, Marcelo Saldanha, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), afirma que foram identificados no local três níveis de materiais destinados a abafar o som. Acima do forro de gesso, havia uma camada de lã de vidro que evita a difusão do som para a vizinhança. Abaixo do gesso, colado a ele, estava a espuma.
— Inicialmente, havia o gesso e a lã de vidro. Mas, para evitar o eco que se formava no local, os proprietários decidiram acrescentar a espuma — revelou Saldanha.
A reconstituição prevista pela Polícia Civil terá ainda um outro elemento: os mais de 60 celulares das vítimas. Vídeos e fotos que tenham sido feitos no início do incêndio poderão contribuir para a reconstrução ainda mais fiel dos fatos.
— Alguém deve ter gravado as cenas, e a gente vai descobrir. É só uma questão de tempo — diz Meinerz.
BUSCA DE RESPOSTAS
Investigadores compõem o quebra-cabeças que irá explicar como a tragédia aconteceu:
Quem é o fabricante da espuma usada para isolamento acústico na boate Kiss?
Por enquanto, não há informação oficial sobre isso.
Quem é o fornecedor da espuma?
Está em investigação pela Polícia Civil, que diz não saber ainda. O advogado Jader Marques, que defende Kiko Spohr, um dos proprietários da casa noturna, diz que Kiko contratou um engenheiro, que teria indicado "onde comprar", mas não revela detalhes.
Quem instalou a espuma?
Segundo a Polícia Civil, o responsável pela instalação foi um barman da boate, cuja identidade é preservada. O delegado regional Marcelo Arigony afirma já ter ouvido o responsável, mas o depoimento é mantido em sigilo.
A espuma usada era mais barata?
Isso está sendo analisado pela perícia. Especialistas dizem que no mercado há modelos com aditivo de controle de chamas, que podem chegar a até R$ 75 o metro quadrado (50mm de espessura). Os modelos mais simples, sem esse detalhe, custam a partir de R$ 45 em média.
Se o sputnik usado fosse específico para ambientes internos, o resultado seria diferente?
Sim, já que esse equipamento é produzido para não provocar a combustão de produtos inflamáveis.
A reprodução vai determinar também o nível de resistência da espuma ao fogo. Revestimentos que contam com um aditivo destinado a retardar a propagação, mais caros, são mais seguros do que outros sem esse tipo de proteção. O engenheiro civil Gilmar Roth, especializado em projetos acústicos, considera, no entanto, que nenhum deles é completamente confiável.
— Não recomendo esse tipo de produto. Não é 100% seguro porque mesmo aquelas espumas chamadas antichama desprendem alguma quantidade de gás tóxico em contato com o fogo — sustenta.
Roth faz ainda um outro alerta:
— Se um tipo de adesivo não recomendado pelo fabricante for utilizado, o risco de incêndio se torna maior ainda.
O preço do metro quadrado dos melhores modelos de poliuretano com 50 milímetros de espessura e adesivo resistente ao fogo costuma chegar a até R$ 75, aproximadamente. Materiais sem as mesmas garantias podem ter custo a partir de R$ 45.
Integrante da comissão encarregada de periciar as condições de segurança no local da catástrofe, Marcelo Saldanha, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), afirma que foram identificados no local três níveis de materiais destinados a abafar o som. Acima do forro de gesso, havia uma camada de lã de vidro que evita a difusão do som para a vizinhança. Abaixo do gesso, colado a ele, estava a espuma.
— Inicialmente, havia o gesso e a lã de vidro. Mas, para evitar o eco que se formava no local, os proprietários decidiram acrescentar a espuma — revelou Saldanha.
A reconstituição prevista pela Polícia Civil terá ainda um outro elemento: os mais de 60 celulares das vítimas. Vídeos e fotos que tenham sido feitos no início do incêndio poderão contribuir para a reconstrução ainda mais fiel dos fatos.
— Alguém deve ter gravado as cenas, e a gente vai descobrir. É só uma questão de tempo — diz Meinerz.
BUSCA DE RESPOSTAS
Investigadores compõem o quebra-cabeças que irá explicar como a tragédia aconteceu:
Quem é o fabricante da espuma usada para isolamento acústico na boate Kiss?
Por enquanto, não há informação oficial sobre isso.
Quem é o fornecedor da espuma?
Está em investigação pela Polícia Civil, que diz não saber ainda. O advogado Jader Marques, que defende Kiko Spohr, um dos proprietários da casa noturna, diz que Kiko contratou um engenheiro, que teria indicado "onde comprar", mas não revela detalhes.
Quem instalou a espuma?
Segundo a Polícia Civil, o responsável pela instalação foi um barman da boate, cuja identidade é preservada. O delegado regional Marcelo Arigony afirma já ter ouvido o responsável, mas o depoimento é mantido em sigilo.
A espuma usada era mais barata?
Isso está sendo analisado pela perícia. Especialistas dizem que no mercado há modelos com aditivo de controle de chamas, que podem chegar a até R$ 75 o metro quadrado (50mm de espessura). Os modelos mais simples, sem esse detalhe, custam a partir de R$ 45 em média.
Se o sputnik usado fosse específico para ambientes internos, o resultado seria diferente?
Sim, já que esse equipamento é produzido para não provocar a combustão de produtos inflamáveis.
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