A um ano e oito meses da sucessão de Dilma, oposição tenta encontrar um rumo
Com discursos dissonantes, partidos contrários ao PT ingressam em 2013 ainda sem candidato
Letárgica na primeira metade do governo Dilma Rousseff, a oposição tenta despertar.
Sem rosto, discurso e carente de articulação, sabe que precisa se encontrar para impedir que o PT confirme o quarto mandato consecutivo no Palácio do Planalto.
Principal vertente de resistência, o PSDB reconhece as dificuldades criadas pela falta de sintonia. A oposição tradicional, formada ao lado de DEM e PPS, não consegue minar a popularidade de Dilma, apesar do fraco desempenho da economia e do protagonismo do julgamento do mensalão, que condenou petistas ilustres, na agenda nacional. Isoladas pela ampla base aliada no Congresso, as siglas também patinam para impor derrotas políticas ao governo.
— Em dois anos, nossas principais dificuldades no parlamento, Código Florestal e royalties, não foram obra da oposição, foram discussões mais amplas, como o atrito entre ambientalistas e ruralistas — avalia um integrante do alto escalão petista.
Na abertura do terceiro ano do governo Dilma, o cenário parece não ter mudado. A tentativa fracassada de impor um nome alternativo à candidatura do governista Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado é um exemplo. Sem um candidato, só referendou o apoio a Pedro Taques (PDT-MT) na quinta-feira, véspera da votação que reconduziu Renan ao cargo.
Discurso é pautado pela imprensa, diz analista
Parlamentares creditam os insucessos à falta de um líder que catalise as forças contrárias ao governo. Presidente tucano, o deputado Sérgio Guerra (PE) define 2013 como ano decisivo para que os partidos definam um presidenciável e afinem suas prioridades.
— Hoje a oposição peca por não ter um discurso nacional. Cada partido tem sua própria agenda — critica.
Resolver a lacuna da liderança é apenas parte dos problemas, avalia Pedro Fassoni Arruda, professor do departamento de Ciência Política da PUC-SP. Além de um contraponto ao PT, a oposição precisa trazer suas bandeiras para o debate nacional, saindo das asas da imprensa e do Ministério Público.
— Hoje temos uma oposição sem discurso e pautada pela imprensa. Se a gasolina sobe e os jornais batem, a oposição bate na carona — critica.
Partidos carecem de nomes fortes
Nome mais cotado para ocupar a lacuna de líderes da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB) deixa a toca aos poucos, usando da mineirice que o mantém afastado de bolas divididas, evitando se indispor com siglas de envergadura, a exemplo do PMDB.
Presidente do DEM, o senador Agripino Maia (RN) é contrário à pressa na escolha do oponente de Dilma, justamente de olho em aliados insatisfeitos no governo. Ele considera fundamental "oxigenar" a tradicional aliança PSDB-PPS-DEM, seduzindo siglas da base aliada, como PDT, PTB e PP.
— Não se pode sentar para discutir tendo candidato posto. Nossa articulação precisa ser mais elástica — diz.
Aliado histórico dos tucanos, o DEM ganhou sobrevida com a conquista de ACM Neto em Salvador. Por outro lado, Marina Silva tenta criar a própria sigla e o PSOL articula chapa com chances nanicas de sucesso, liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (AP).
Tal carência de nomes faz com que atuais aliados de Dilma, como o governador Eduardo Campos (PSB-PE), sejam capazes de assustar mais os petistas que os nomes da oposição.
A situação reforça uma convicção do professor Pedro Fassoni Arruda: depois do julgamento do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) goza de mais apelo junto ao eleitorado do que os partidos contrários ao PT.
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