segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Boate Kiss não podia funcionar, afirma secretário de Segurança do RS


Boate Kiss não podia funcionar, afirma secretário de Segurança do RS

Airton Michels apontou superlotação e show pirotécnico como possíveis causas da tragédia em Santa Maria

Airton Michels apontou superlotação e show pirotécnico como possíveis causas da tragédia em Santa Maria
Crédito: Mauro Schaefer
O secretários da Segurança Pública, Airton Michels, foi categório ao afirmar que a boate Kiss não poderia estar funcionando, na noite da tragédia que matou 237 pessoas. Michels participou de entrevista coletiva em Santa Maria na tarde desta segunda-feira e salientou que, além da busca das causas da tragédia, há a investigação de formalidades cumpridas, mas fora da legislação, como o caso do Plano de Prevenção a Incêndio (PPCI), que até o momento a Polícia Civil investiga.

Segundo Michels, pode ter ocorrido compartilhamento de responsabilidades e os indícios mais claros de irregularidades são de superlotação na Kiss e do acionamento do sputnik (artefato pirotécnico), dentro da danceteria. “Em qualquer cidade do mundo, quem é o responsável para conceder o alvará de funcionamento?”, questionou o secretário.

Na visita a Santa Maria, Michels estava acompanhado do comandante-geral da Brigada Militar, coronel Fábio Duarte, e do chefe de Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira júnior. Eles visitaram instituições que estão investigando ou trabalhando de alguma forma em relação ao incêndio. O secretário anunciou que foi viabilizado um tratamento psicológico e psiquiátrico para os profissionais da segurança pública que trabalharam na tragédia. “Temos estruturadas equipes de psicólogos e psiquiatras para atender aos nossos servidores”, garantiu.

A tragédia de Santa Maria, salientou Michels, servirá para elaborar ações profissionais e técnicas do trabalho da segurança pública. "Além do trabalho de investigação, todas as instituições têm que estender a discussão desse tema e aprofundá-lo, para que este tipo de tragédia não ocorra no país e em nunhum lugar do mundo", ressaltou o secretário.

Ranolfo Vieira Júnior ressaltou que as investigações estão entrando em seu oitavo dia com boa evolução. A Polícia Civil recebeu a informação da Secretaria Estadual da Saúde, de que 575 pessoas foram atendidas depois do incêndio na Kiss. Estas pessoas serão identificadas e também serão ouvidas, além de passarem por uma perícia. “Esta e uma informação relevante para nós, pois somando ao número de mortos, temos no mínimo entre 750/800 pessoas que estavam dentro da boate”, assinalou o delegado. “Ainda vamos fazer uma triagem para averiguar quem foi atendido duas vezes ou teve morte no hospital.”

Revestimento acústico foi comprado em loja de colchões

O revestimento acústico instalado no teto da boate Kiss foi comprado em uma loja de colchões do município. A espuma de poliuretano é inflamável, mas amplamente utilizada para a confecção de "colchonetes piramidais" em hospitais, e no revestimento de paredes de consultórios dentários, estúdios de gravação e igrejas para reduzir a propagação de ruídos.

O dono da loja onde os responsáveis pela boate fizeram três compras nos últimos dois anos garante que vários estabelecimentos da região vendem o produto. O fabricante é da Região Metropolitana, segundo Flávio Boeira. O comerciante disse que desconhece qualquer proibição em torno da venda da espuma. “Não há nenhuma normativa proibindo. O pessoal usa em garagem, consultórios, mas somente nas paredes”, ressaltou.

Boeira vendeu seis bobinas de 1,90m x 5m em setembro de 2011, a um custo de R$ 330 cada uma. Outras três bobinas foram compradas em outubro do mesmo ano e três em julho de 2012, cinco meses após a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público em Santa Maria e os proprietários da boate para a realização de obras de isolamento acústico. As notas fiscais serão entregues à Polícia Civil.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Engenharia (Crea/RS), Luiz Alcides Capoani, os proprietários não aplicaram um produto para retardar o tempo da queima da espuma. Mesmo assim, o dirigente frisou que o material é inadequado para esse tipo de revestimento.

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