Médicos apontam como uma das causas das deformidades os produtos químicos contidos em armas

O número de crianças nascidas no Afeganistão com membros deformados e outras deformações está aumentando, dizem médicos, com muitos culpando casamentos mistos, uso de drogas e produtos químicos contidos em armas de explosão.

Não há estatísticas exatas sobre o número de crianças nascidas com deficiências, mas evidências dos hospitais de Cabul e de províncies sugerem um aumento.

Trina Yadgari, uma obstetra do Hospital Istiqlal em Cabul, disse que, em 2008, 16 de 3,7 mil crianças nasceram no hospital com algum defeito de nascença, enquanto que, em 2009, foram 34 deformações em quatro mil nascimentos.

Ela disse que a maioria das deformidades aconteceu em províncias inseguras, culpando ataques suicidas, explosões de minas e bombardeios.

Ataques constantes podem traumatizar uma mulher que poderia dar à luz uma criança com deformidades, mas também, substâncias químicas usadas em armas podem ser venenosas e, se inaladas por mulheres grávidas, podem causar defeitos no útero.

Outros fatos que causam nascimentos com anomalias incluem violência, casamento entre membros da família, anemia, má nutrição, drogas e uso de cigarros.

Ela aconselha mulheres grávidas a se consultar com um especialista em saúde, ingerir uma dieta variada e saudável e evitar medicação não prescrita.

Maroof Sami, um obstetra do Hospital Maternidade Malalai em Cabul, disse que de 20 mil crianças nascidas no hospital em 2008, 216 tiveram alguma deficiência, enquanto em 2009, havia 22 mil nascimentos dos quais 280 bebês apresentaram anomalias.

Ele disse que não houve pesquisa suficiente sobre a influência de produtos químicos usados em armas para saber se eles foram a causa das deformidades.

Entretanto, ele citou violência contra a mulher durante a gravidez, medicação não prescrita, estresse, fumo e drogas como causas para os defeitos de nascimento.

Estatísticas das províncias também mostram que o número de bebês nascidos com defeitos aumentou.

Mohammad Daoud Farhad, médico-chefe no Hospital Mirawais na província de Kandahar, no sul, disse que a maioria das deformidades acontece em áreas remotas. Ele disse que, em 2008, nove bebês nasceram com anomalias, enquanto em 2009 foram 12.

Ele mencionou que casamentos mistos, má nutrição e drogas são fatores de contribuição, mas disse que a principal causa em Kandahar foram os produtos químicos usados em explosivos.

Enayatullah Ghafari, médico-chefe do departamento de saúde pública na província vizinha de Helmand, disse que houve alguns casos de bebês nascidos com deformidades, ou com membros com deficiência, mas que o número era menor do que em outras províncias.

Insegurança, explosões, ataques aéreos, narcóticos e remédios não prescritos são todos fatores de contribuição, disse ele.

O professor Abdul Salaam Jalali, especialista em saúde, pediu uma investigação sobre as munições usadas pela coalizão internacional contaminadas por urânio ou fósforo branco, ambas provadas como causas das deformações de fetos no útero.

Ele apontou que os recentes relatos de que bebês nasceram com defeitos congênitos no Iraque estão relacionados às armas usadas pelos Estados Unidos que continham urânio.

"Isso diz que as forças dos Estados Unidos também usaram munição contendo urânio em Tora Bora [complexo de cavernas localizado nas Montanhas Brancas, no leste do Afeganistão]", disse.

Na província de Nahgarhar, no leste, Ajmal Pardis, chefe do departamento de saúde pública local, também pediu investigações sobre a causa das deformidades, para que os pais possam ser alertados.

Sheila, 45 anos, residente em Cabul, tem uma filha cujas pernas são deformadas de nascença. "Eu tenho uma filha que é deficiente. Eu tenho que levá-la a médicos para tratamentos e gasto muito dinheiro, mas tem sido em vão".

Sheila diz não saber porque deu à luz uma criança deficiente, tampouco nenhum dos médicos com quem se consultou. Ela acredita que o Ministério de Saúde Pública deveria fazer alguma pesquisa e deixar que todos saibam como prevenir as deformidades.

Mohammad Aslam, 42 anos, tem um filho de cinco anos que sofre de fenda palatina e uma filha de três anos que tem problemas cardíacos. "Eu fui a muitos hospitais do governo e não governamentais, mas nenhum deu resultado, nós ainda nos perguntamos porque nossos filhos nasceram assim."

Ele disse que gastou cerca de três mil dólares no tratamento de seus filhos. "Minha esposa e eu decidimos não ter mais filhos porque não podemos vê-los sofrer assim. Nós também não podemos pagar pelos tratamentos."

Sadia Ayoubi, chefe do departamento de maternidade do Ministério de Saúde Pública, disse que é impossível dizer se o número de crianças nascidas com anormalidades aumentou ou não, já que não há estatísticas oficiais. "Quando tivermos estatísticas dos hospitais, poderemos realizar uma pesquisa para saber porque isso acontece", disse ela.