segunda-feira, 8 de abril de 2013

Erenice, ex-braço-direito de Dilma, demitida por causa de lambanças da Casa Civil, está de volta. E continua poderosa! Ninguém vaia, ninguém protesta, ninguém dá selinho…


Erenice, ex-braço-direito de Dilma, demitida por causa de lambanças da Casa Civil, está de volta. E continua poderosa! Ninguém vaia, ninguém protesta, ninguém dá selinho…

Erenice, demitida da Casa Civil depois de um escândalo, torna-se poderosa lobisa e já segue agenda de Dilma (foto: Dida Sampaio/13.07.2010/Estadão Conteúdo)
No Brasil em que um deputado evangélico se transforma no inimigo público nº 1 da imprensa e dos descolados — ele pode não ser a voz de Deus, mas os que querem linchá-lo não são a voz do povo! — porque é contra o casamento gay (“Oh! Como pode? Que escândalo!”), os que trataram e tratam os cofres públicos como se fossem assunto privado não têm com que se preocupar. Vejam lá João Paulo Cunha e José Genoino, condenados e cassados (questão de tempo), na Comissão de Constituição de Justiça. São tratados pelo jornalismo como príncipes, como pensadores. Setenta e três milhões de reais só do Banco do Brasil foram para o ralo dos larápios. Mas Genoino diz que não houve dinheiro público naquela sem-vergonhice. Nem Ricardo Lewandowski acreditou. Assim, não é de estranhar que Erenice Guerra — ex-braço-direito da então ministra Dilma e depois ela própria chefe da Casa Civil, demitida na esteira de um escândalo — esteja de volta. E mais poderosa do que nunca!
Reportagem publicada na edição de VEJA desta semana mostra que Erenice montou um escritório de lobby numa mansão de Brasília, desfila num carrão avaliado em R$ 200 mil, reúne-se com empresários e agentes públicos e continua, atenção!, INFLUENTE NO PALÁCIO DO PLANALTO. Mais do que isso: ela lida também com questões que dizem respeito à campanha eleitoral de 2014.
Não é a primeira que foi defenestrada do governo e que volta com força. Dilma devolveu os ministérios do Trabalho e dos Transportes a prepostos dos ex-ministros Carlos Lupi e Alfredo Nascimento, respectivamente. Os dois saíram do governo tangidos por escândalos. Como Dilma quer contar com o PDT e com PR na eleição do ano que vem, como quer o seu tempo de TV, fez o que estava a seu alcance para contentar as duas legendas: entregou-lhes cargos públicos; deu-lhes uma fatia da administração. Eles, naturalmente, ficaram gratos, vão apoiar a campanha pela reeleição de Dilma e dirão que o fazem em defesa do povo.
Como só um homem mexe com o senso de justiça da imprensa — Marco Feliciano! —, essas negociações, assim, meio pornôs no que respeita à moralidade pública, foram feitas a céu aberto. Ninguém espera que o PDT ou o PR apresentem uma bula de princípios éticos para Dilma, não é mesmo?
Com Erenice, no entanto, é um pouco diferente. Ela não tem votos no Congresso nem tem minutos na TV. Mas, pelo visto, tem um lugar no coração de Dilma. Na Casa Civil, conheceu as entranhas do Palácio. Voltou, assim, meio nas sombras, mas atuando já nas altas esferas. Leiam trechos da Reportagem de Rodrigo Rangel e Adriano Ceolin. Volto em seguida.
*
Braço-direito de Dilma no governo passado, Erenice foi demitida em setembro de 2010, duas semanas antes da eleição, depois de VEJA revelar que ela integrava um bem articulado esquema de corrupção montado no Palácio do Planalto. Com a vitória de Dilma, reconstruiu a carreira longe dos holofotes. Hoje, ela atua como lobista de sucesso – que recebe em seu escritório autoridades de primeiro escalão para negociar projetos bilionários — e participa até mesmo das articulações eleitorais em curso. Na semana passada, Erenice esteve em Fortaleza com Dilma e a comitiva da presidente, que cumpriu agenda oficial na cidade. Erenice se hospedou no mesmo hotel reservado para a equipe presidencial e agiu como se ainda fosse, formalmente, uma das estrelas do time. Ela conversou com políticos e cobrou deles empenho na campanha pela reeleição da petista. Apresentou-se sempre como uma interlocutora do Planalto e quis saber quem simpatizava com Eduardo Campos (PSB), o aliado que pode virar adversário na corrida presidencial. Há mais do que mera lealdade à amiga Dilma nesse tipo de trabalho. Há. isso sim, uma boa dose de estratégia comercial. Erenice ganha para fazer lobby de interesses privados junto ao governo do PT, no qual tem uma extensa rede de contatos.
No Ceará, a ex-ministra teve uma audiência com o vice-governador Domingos Filho (PMDB) para tratar de um projeto de exploração de energia solar tocado no estado pelo empresário Eike Batista. Mas a base de operações dela é mesmo em Brasília, numa luxuosa casa no Lago Sul, um dos endereços mais exclusivos da capital. Ali, funciona o escritório Guerra Advogados Associados, que Erenice mantém em sociedade com os irmãos. O escritório é de advocacia apenas no nome. Erenice não aparece como advogada em nenhum processo novo sequer, nem na Justiça local nem nos tribunais superiores de Brasília. Não sem razão. A especialidade da casa é outra: fazer lobby. Utilizando-se das boas relações que tem no governo federal e entre políticos petistas e de partidos aliados, Erenice bajula e é bajulada por autoridades — de senadores da República a funcionários do alto escalão do governo — e fecha negócios valiosos envolvendo o setor público. Na quarta-feira, ela recebeu o secretário executivo do Ministério da Previdência, o petista Carlos Gabas. “Foi um almoço de amigos. Conversamos sobre a vida e o que estamos fazendo para manter nossa sanidade mental”, disse Gabas, que chegou ao escritório em carro oficial e é quem manda de fato na pasta. “Até onde eu sei, nada foi provado contra ela.” Não é bem assim.
No Ministério Público, após uma investigação sumária e repleta de falhas, o procedimento destinado a apurar as peripécias da ex-ministra de fato foi arquivado. Mas um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), órgão do próprio governo, acusou Erenice de irregularidades graves quando esteve no comando da Casa Civil. Entre elas, ter usado o cargo para viabilizar negócios de empresas que contratavam os serviços de consultoria de seu filho Israel. Erenice agiu ainda para favorecer a Unicel, companhia de telefonia que tinha seu marido, José Roberto Camargo, como representante. Esse lobby rendeu frutos num primeiro momento, mas o grande negócio — que era a venda da Unicel para a Nextel – foi barrado pela Anatel depois de revelado por VEJA.

Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário