quinta-feira, 31 de março de 2011

Água e radiação nuclear: as lições de Fukushima e Yodobashi

Já está circulando a revista ECO 21 de marçõ de 2011. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e índice da edição.

Editorial

A contaminação radioativa chegou à água de Tókio. Enquanto as autoridades do Governo Central do Japão minimizavam a real dimensão da tragédia nuclear, o Departamento de Obras Hidráulicas da Prefeitura de Tókio detectava na Planta de Tratamento de Água de Yodobashi índices radiativos acima do normal recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Nem mesmo depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki a Planta de Yodobashi tinha registrado radiação na água que abastece a cidade de Tókio.

A empresa operadora da central nuclear de Fukushima, a Tokyo Electric Power, desde o início do vazamento radioativo, propositalmente não informou os dados verdadeiros que foram revelados pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Fukushima, hoje, está perigando ser o maior acidente nuclear da história superando largamente Chernobyl e as centenas de acidentes chamados "menores" acontecidos em usinas nucleares da Europa e dos Estados Unidos. Os japoneses estão em vias de não poder beber, nem usar para cozinhar a água das torneiras; tampouco podem comprar verduras e alimentos produzidos num raio de 100 km de distância dos 4 reatores que explodiram.

Fukushima transformou-se num divisor de águas para a energia nuclear no mundo inteiro. Alemanha já decidiu desativar as centrais nucleares mais antigas; a Suíça optou por estudar mais devagar seu projeto energético atômico e até a China, que tinha previsão de construir mais de vinte centrais nucleares está reavaliando a sua matriz energética. A Índia parou todos os projetos, mesmo as usinas em construção. Este fato pode ser interpretado como um alerta para o Brasil. Espera-se que o Congresso Nacional analise em profundidade os prós e os contras em continuar com Angra 3. Todos sabem que se acontecer uma emergência nuclear em Angra não haverá rota de escape segura para as milhares de pessoas que moram no primeiro círculo de segurança de 5 quilômetros, nem para os agricultores, caboclos e caiçaras que habitam o entorno dessa região do Estado do Rio.

 A caminho da RIO+20, sendo uma referência mundial em energias limpas, o Brasil continua a aventura nuclear sem um Órgão Regulatório Independente. Hoje, o controle de todas as atividades nucleares, desde a pesquisa, produção de radioisótopos, prestação de serviços, o ensino para a especialização e de pós-graduação é exercido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear o que é expressamente proibido pelo "Protocolo da Convenção Internacional de Segurança Nuclear", do qual o Brasil é signatário. Este fenômeno administrativo leva à leniência em relação ao licenciamento e a fiscalização, isto é, a uma estrutura administrativa de convivência conflituosa que não permite mínimas garantias de independência para exercer as suas funções. No Dia Mundial da Água, somos solidários aos japoneses, infelizmente, ameaçados de não poder beber nem uma gota procedente da Planta de Yodobashi.

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