segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Execução de brasileiro reabre debate sobre pena de morte e diplomacia

Execução de brasileiro reabre debate sobre pena de morte e diplomacia

Fuzilamento de Marco Archer no sábado acendeu discussão após o país asiático rejeitar vários apelos de clemência do Itamaraty. Planalto afirma que gesto afeta “gravemente” relação entre nações

Execução de brasileiro reabre debate sobre pena de morte e diplomacia Dida NUSWANTARA/AFP
Após execuções, comboio de ambulâncias deixou prisão com corpos de condenados, incluindo o do brasileiroFoto: Dida NUSWANTARA / AFP
Tema comum em discussões acaloradas, a pena de morte tomou conta das redes sociais no fim de semana com o fuzilamento de Marco Archer, condenado naIndonésia por tráfico de drogas. A morte do brasileiro – primeiro executado no Exterior em tempos de paz – traz temas antes restritos a círculos diplomáticos: condenação de criminosos estrangeiros, aplicação de pena capital e relação entre países de leis tão diferentes.
Nas redes sociais, enquanto parte dos internautas defendia o rigor adotado pelo país asiático, outros criticavam o desrespeito da Indonésia aos direitos humanos. Acusado de entrar com cocaína no país, o carioca de 53 anos foi fuzilado na ilha de Nusa Kambangan, onde há uma prisão de segurança máxima. Além dele, foram mortos um holandês, um nigeriano, um malauiano e um indonésio. Já uma vietnamita foi fuzilada no centro de Java

Os apelos da presidente Dilma Rousseff não tiveram efeito sobre a decisão do presidente asiático Joko Widodo, que negou pedidos do Planalto para extradição do brasileiro ou adiamento da execução. Desde 2008, o governo indonésio respeitava moratória não oficial sobre a pena capital, mas em 2013 retomou as execuções, após mudança na presidência.
Uma série de tratados internacionais elimina a pena de morte, sobretudo em Estados europeus e na América Latina. Porém, a Indonésia não é signatária desses acordos. Para Carlos Vidigal, doutor em Relações Internacionais e professor da Universidade de Brasília (UnB), a reação do governo brasileiro ao fuzilamento é destinada muito mais ao público interno do que às relações com a Indonésia.
 
A avaliação é de que o governo age corretamente ao explicitar o que os brasileiros querem ouvir:
– Todos queremos nos sentir seguros pelo governo brasileiro quando estamos no Exterior.
Vidigal ressalta que a Indonésia está seguindo suas leis internas e cita o exemplo do italiano Cesare Battisti, condenado na Itália e que teve a concessão de refúgio como preso político no Brasil, em 2010.
Para o professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel, não se pode dizer que o clima entre Brasil e Indonésia fosse de camaradagem antes do conflito diplomático. O apoio brasileiro à independência do Timor Leste, ocupado pela Indonésia por 24 anos, teria deixado marcas profundas nas relações entre os países.
– No momento da independência timorense, em 2002, o português, que foi proibido durante a ocupação indonésia, era falado por apenas 5% da população. O retorno do idioma como língua oficial serviu como um símbolo poderoso de que o Timor era diferente da Indonésia, que era uma colônia holandesa – cita Stuenkel.
Archer levou um só tiro, no peito
Segundo a Procuradoria-Geral, órgão responsável por levar adiante as execuções na Indonésia, o brasileiro morreu com um único tiro, disparado contra o peito. Antes, foi amarrado a uma estaca, assim como os outros cinco mortos. Archer foi o segundo dos seis a morrer. Depois de reconhecido,  o corpo foi levado a um crematório. As cinzas devem chegar nesta segunda-feira ao Rio de Janeiro, levadas pela tia, Maria de Lourdes Archer Pinto.
Em nota, a organização não governamental Anistia Internacional considerou um “retrocesso” a execução. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a morte do brasileiro traz uma sombra na relação entre os dois países. O governo determinou que o embaixador em Jacarta, capital da Indonésia, venha ao Brasil para consultas. A Holanda também retirou o embaixador do país após ter os pedidos de clemência negados.

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