sábado, 9 de fevereiro de 2013

Sobrevivente da tragédia de Santa Maria visita família de jovem que salvou sua vida


Sobrevivente da tragédia de Santa Maria visita família de jovem que salvou sua vida

Jonas Vieira viajou até Santa Cruz do Sul para conhecer a família de Matheus Raschen, que o resgatou do local e morreu no hospital dias depois

Jonas e Matheus se conheceram há cerca de quatro anos
Sobrevivente da tragédia de Santa Maria visita família de jovem que salvou sua vida  Caco Konzen/EspecialA A 







A família de Matheus Rafael Raschen, 20 anos, estudante de Tecnologia em Alimentos da UFSM que morreu quatro dias após o incêndio na boate Kiss, tornando-se a vítima número 236 da tragédia, recebeu um visitante intensamente aguardado na manhã deste sábado. Jonas Vieira, 26 anos, viajou de Novo Hamburgo a Santa Cruz do Sul para conhecer os pais do jovem que o salvou na madrugada de 27 de janeiro.
— Não tenha nenhum sentimento de culpa — pediu Nestor, 53 anos, pai de Matheus, ao cumprimentar o recém-chegado com um demorado abraço, na frente de casa, na Avenida Independência.
A mãe, a avó e o irmão mais velho de Matheus também recepcionaram Jonas, que já morou em Santa Cruz. O encontro foi possível graças a contatos via Facebook. Jonas e Matheus se conheceram há cerca de quatro anos, quando o representante comercial assistiu a uma partida de basquete do universitário, no ginásio do Corinthians Sport Club, em Santa Cruz. Após o jogo, saíram em grupo para um lanche. Na madrugada do desastre, os dois se reencontraram dentro da casa noturna e conversaram brevemente, minutos antes do início do fogo. Ao tentar deixar o local, Jonas perdeu o tênis e se machucou ao cair. Só conseguiu escapar ao ser auxiliado por Matheus, que depois voltou para o interior da boate para socorrer outras pessoas. O atleta, quatro vezes campeão estadual pela equipe santa-cruzense, acabou sofrendo queimaduras em 43% do corpo e aspirando a fumaça tóxica. Em estado grave, foi transferido ao Hospital de Pronto-Socorro, em Porto Alegre.
— Eu nunca estive em uma guerra, mas acho que aquilo ali era muito pior — contou o sobrevivente, ainda mancando devido ao corte no pé e interropendo o depoimento inúmeras vezes por causa do choro.
Temeroso com a possibilidade de abalar os parentes, Jonas não contou que estivera na Kiss e presenciara todo o horror em Santa Maria. Associou o rosto de Matheus ao sobrenome Raschen quando acompanhava a repercussão pelo noticiário. Com a morte do estudante, na quinta-feira 31, experimentou uma violenta sensação de culpa e confidenciou a angústia a uma amiga via Facebook. Essa amiga, mãe da namorada de Matheus, intermediou o contato com a família.
- Para ele era muito importante fazer coisa boa. Que bom que você conseguiu nos achar - disse a dona de casa Núria, 58 anos, mãe do ala-armador que defendeu também a seleção gaúcha.
Os Raschen enfrentam pela segunda vez o luto de uma perda tão próxima - Thiago, o filho do meio, morreu em 2010, aos 24 anos. Na semana seguinte ao incêndio, a partir das informações trazidas por outras vítimas, Nestor e Núria acreditaram que o caçula pudesse ter se envolvido no socorro aos demais frequentadores. Neste sábado, sentiram-se aliviados ao descobrir que, no momento em que ajudou Jonas, Matheus estava fisicamente bem. Um corte no supercílio leva os pais a supor que ele bateu a cabeça ao desfalecer, intoxicado pela fumaça. Núria atormentava-se, nos últimos dias, ao imaginar a possibilidade de o filho ter sido atingido pelas chamas ainda consciente.
— Que bom que vidas foram salvas — conformou-se Nestor, vice-diretor do tradicional Colégio Mauá, onde chegou a ser professor dos três filhos.
— Obrigado. Sempre que eu puder, vou bater aqui na sua porta — falou Jonas, convidado para visitar o túmulo do amigo no cemitério, quase em frente à residência, e para o almoço, logo depois.

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