quinta-feira, 31 de março de 2011

Abril verde-amarelo.





















No próximo dia 5 de abril, milhares de produtores rurais, agricultores, pecuaristas e a cadeia de produção da agropecuária vão invadir Brasília para pressionar os seus parlamentares para a aprovação do Código Florestal. CLIQUE AQUI E VEJA A PROGRAMAÇÃO OFICIAL. Não é um abril vermelho. Não é um abril onguista e verdista. É um abril verde-amarelo. Todo o dinheiro que o Brasil tem em caixa foi gerado pelos sucessivos superavit do agronegócio. É um terço do PIB que está ameaçado por meia dúzia de simpatizantes da guerrilha rural do MST e pelas ongs financiadas pelo agrobusiness europeu e norte-americano, que sabem que o Brasil pode derrubar os preços dos alimentos e resolver a fome no mundo. Ajude a convocar enviando o selo acima. Ninguém ama mais as florestas, os rios e a natureza do que o agricultor brasileiro. Não deixe ninguém roubar o nosso verde. Todos em Brasília para aprovar o Código Florestal. É uma grande causa. Eu vou! Leia aqui e acompanhe toda a mobilização colocando o Blog do Código Florestal entre os seus favoritos. É feito por quem entende do assunto.
José Alencar, de balconista a empresário e vice-presidente da República

Brasília – O ex-vice-presidente José Alencar Gomes da Silva nasceu no vilarejo de Itamuri, no município de Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 17 de outubro de 1931. Era o 11º filho de um total de 15 do comerciante Antônio Gomes da Silva e da dona de casa Dolores Peres Gomes da Silva.

Em 2003, Alencar foi eleito vice-presidente na chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário mineiro teve papel fundamental para que Lula ganhasse a confiança do empresariado durante a campanha eleitoral. Em 2006, foi reeleito para o cargo.

No governo, Alencar acumulou a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa, de 2004 até março de 2006, quando se licenciou do ministério para concorrer novamente às eleições presidenciais.

Filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB), Alencar fez inúmeras críticas à política econômica adotada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) e virou símbolo dos que pediam a redução da Taxa Básica de Juros (Selic).

Alencar deixou a casa dos pais aos 14 anos para ser balconista da loja de tecidos A Sedutora, em Muriaé. Dois anos depois, mudou-se para Caratinga (MG), onde continuou a trabalhar como vendedor.

Quando completou 18 anos, Alencar foi emancipado pelo pai, pegou dinheiro emprestado com o irmão mais velho, Geraldo Gomes da Silva, e abriu o próprio negócio. Em 31 de março de 1950, abriu a primeira empresa A Queimadeira, onde vendia tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas e sombrinhas. Para economizar, morava na própria loja.

Com o apoio dos irmãos, o ex-vice presidente manteve a loja até 1953, quando decidiu vendê-la e mudar de ramo. Tornou-se representante comercial de um fabricante de tecidos do Rio de Janeiro, trabalhou na área de cereais e foi sócio de uma fábrica de macarrão. Em 1959, o irmão mais velho de Alencar morreu em Ubá, também em Minas, e ele assumiu os seus negócios.

Em 1967, em parceria com o empresário de beneficiamento de algodão e deputado Luiz de Paula Ferreira, Alencar fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, a Coteminas, que se tornaria um dos maiores grupos têxteis do Brasil. Em 1975, ele inaugurou a mais moderna fábrica de fiação e tecidos do país. A Coteminas tem fábricas de fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis para o mercado interno. O grupo ainda tem cinco unidades nos Estados Unidos, uma na Argentina e uma no México.

O ex-vice-presidente atuou em entidades representativas do empresariado. Foi presidente da Associação Comercial de Ubá e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), além de vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na vida política, em 1994, candidatou-se ao governo de Minas e, em 1998, elegeu-se senador pelo PMDB, com quase 3 milhões de votos.

No Senado, foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura e membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e da Comissão Permanente de Assuntos Sociais.

Desde 1997, o vice-presidente lutava contra o câncer. Fez tratamento no Brasil e nos Estados Unidos. Ao todo, ele passou por 17 cirurgias. Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva, com quem teve três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.

Pobres após recessão, terremoto, tsunami

Tóquio, Japão, 30/3/2011 – Quando a região japonesa de Tohoku foi sacudida pelo terremoto do dia 11, a única coisa em que pensou a comerciante Yayoko Shinohara foi pegar a féria do dia e correr com seu marido em busca de um lugar seguro. Quando regressaram, dois dias depois, esse dinheiro era o único que lhes restava.

O casal era proprietário de uma loja de alimentos na principal rua comercial do povoado de Manie, que ficou cheia de escombros. E sua casa, a mais de três quilômetros, estava em ruínas após o tsunami que arrasou a área. "Há décadas trabalhamos duro para ter uma vida estável, e desapareceu em poucos minutos. Nosso futuro é incerto", disse Yayoko à IPS enquanto esperava na fila para se registrar em um abrigo temporário.

Duas semanas após o terremoto de 9 graus que deixou mais de oito mil mortos e dezenas de milhares de pessoas desabrigadas, o Japão enfrenta a monumental tarefa de reconstruir povoados e cidades que ficaram em ruínas e deixaram milhares de desempregados.

A solução para muitos economistas é impulsionar a recuperação com fundos estatais, o que, segundo o consultor Shigeru Yamada, não é fácil nem mesmo para a terceira economia mundial, que já tinha dificuldades com o aumento da pobreza, relacionada com um desemprego superior a 5% da população economicamente ativa. "O desastre foi um duro golpe para o crescimento econômico do Japão.", ressaltou.

A crescente dívida pública, maior do que o dobro do produto interno bruto de US$ 5 trilhões, é outro obstáculo para a injeção de fundos estatais. O custo do prejuízo causado pelo terremoto em sete municipalidades chega a US$ 309 bilhões, informou esta semana o governo, alertando que as exportações e a produção industrial diminuirão. O crescimento previsto para este ano é de 0,5%. A previsão oficial está acompanhada de informes sobre a péssima situação da indústria na região de Tohoku.

As fábricas de autopeças tiveram que suspender a produção pela escassez de eletricidade e as fazendas destroem cultivos contaminados pela radiação emitida pelas centrais nucleares de Fukushima. Além da população de Tohoku, diretamente afetada pelo terremoto e pelo tsunami, os mais pobres sentirão o impacto do desastre, pois já sofriam as consequências da recessão econômica do Japão, segundo cientistas sociais.

O governo metropolitano de Tóquio informou que 15% dos nove milhões de habitantes dependem da assistência. Mais de dois milhões de famílias recebem ajuda estatal, segundo estatísticas divulgadas em janeiro, depois que as empresas reduziram custos em reestruturações para se tornarem competitivas com produtos mais baratos do que outros países asiáticos.

O rosto da pobreza no Japão muda porque pessoas com formação de todas as idades estão em situação vulnerável, explicou o sociólogo Soji Tanaka, da Universidade de Nihon. As previsões não são boas, já que o gasto social pode reduzi-las mais. "A pobreza é um problema social, mas o futuro do gasto social é incerto, pois são necessários fundos para ajudar as áreas afetadas pelo terremoto", afirmou Soji.

No Japão há 17% de pessoas pobres, ou seja, que recebem US$ 18 mil por ano e por família. O sinal de alerta pode ser o anúncio do governo de que revisará a ajuda de US$ 150 para os filhos, que no ano passado foi ampliada para ajudar as famílias com crianças com menos de três anos, disse Soji. A situação é "grave" e significa um "retrocesso" para a agricultura e a pesca, a coluna vertebral da economia regional, afirmou, por sua vez, Seishi Kitamura, presidente do Banco de Tohoku.

"Perdi tudo o que tinha na vida", afirmou Shuichi Iwadoki, dono de uma companhia pesqueira que espera receber do governo um empréstimo a juros baixos para criar outra empresa em Kesenuma, localidade perto de Fukushima.

A beneficência, fenômeno novo na sociedade japonesa, que aumentou no ano passado pela crise econômica, também se tornou uma fonte importante de fundos para a recuperação, segundo doadores locais. "Começamos com a iniciativa porque o Estado não pode fornecer fundos suficientes para os mais necessitados", afirmou Yuko Sie, porta-voz do Fundo Máscara de Tigres, uma instituição benemérita que ajuda jovens pobres. "Os japoneses têm de aprender a confiar entre si para sobreviver", ressaltou. Envolverde/IPS

Uma reflexão sobre a guerra urbana no cotidiano das cidades brasileiras

Viver em sociedade pressupõe, um certo grau de tolerância e respeito ao próximo e, muitas vezes, a subordinação de vontades, desejos e interesses particulares, em nome de uma convivência pacífica.

Infelizmente, não é o que vemos com freqüência em nossas cidades, notadamente, as maiores aqui em nosso país. A busca por uma relativa harmonia fica ainda mais prejudicada quando estão nítidos os gravíssimos problemas de infraestrutura, ou melhor, da falta dela, que potencializam dissabores e momentos de irritação de seus habitantes. Se a isso juntarmos a prepotência e arrogância de alguns que acreditam ter mais direitos que outros, o cenário está aí, montado sobre bases de um cotidiano cercado de batalhas e tensões permanentes.

Basta caminhar alguns metros em uma metrópole como São Paulo para flagrar inúmeros e repetitivos casos de desrespeito ao direito coletivo. São calçadas intransitáveis; lixos espalhados e jogados no chão ao lado de lixeiras; praças com bancos quebrados e monumentos depredados; além de ruas e avenidas mal sinalizadas e iluminadas, entre tantos outros problemas facilmente detectáveis.

Mesmo as pessoas menos propensas a atitudes condenáveis, acabam sendo "contaminadas" pela desordem geral, digo isso, porque não posso imaginar que sejamos todos ou a maioria composta de seres com instintos selvagens dispostos a fazer valer as máximas do "vale-tudo" e do "salve-se quem puder".

Motoristas ensandecidos

Bem, tenho cá minhas dúvidas quanto a bipolaridade entre médico e monstro que acomete cidadãos ao adentrarem as suas máquinas maravilhosas. O pai carinhoso, o amigo fiel, o vizinho gentil e por aí vai, quando se vê solitário dentro de seu veículo, transforma-se como numa maldição, num maligno dr. Hyde pronto a exibir uma ferocidade a qualquer um que ouse manifestar os mesmos direitos.

Os iguais são rechaçados e fustigados o tempo que durar a viagem e apenas mal tolerados, pois a verdade absoluta está sentada naquele banco de motorista e todos os outros sempre estarão errados. Já aos desiguais, a esses não resta absolutamente nenhuma clemência. Pedestres que façam menção de atravessar na faixa reivindicando esse direito serão agredidos e ameaçados verbalmente, quando não atropelados, para que não restem dúvidas de sua insignificância e inferioridade. Bicicletas, também não poderão ter outro destino, vide o caso de Porto Alegre, cuja ousadia foi punida por, blasfêmia maior, reivindicar melhores condições de mobilidade.

Os motoristas histéricos que buzinam escandalosamente nas situações mais triviais, os que agem em flagrante desrespeito as leis e ainda os que colocam a sua vida e dos outros em risco devem estar, sob domínio de algum surto psicótico e têm usado seus veículos com freqüência cada vez mais assustadora, como arma letal. As autoridades do trânsito, bem como os responsáveis pelos testes para aquisição ou renovação da carteira de habilitação deveriam ter condições de punir e prevenir, alguns desses comportamentos inaceitáveis com a perda da licença para dirigir.

Triste resultado

Infelizmente ainda teremos muitas razões para crer que esse quadro deverá se agravar. Uma pesquisa divulgada no mês passado demonstra o quão longe estamos de uma mudança.

Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), um em cada quatro brasileiros afirma que, pasmem, mesmo que o transporte coletivo fosse eficiente, não deixaria de usar o carro como principal meio de deslocamento diário. Entre as diversas argumentações estão o fato dos entrevistados considerarem o transporte coletivo ruim e ineficiente. Quanto a isso não há o que discutir, até porque 44,3% dos ouvidos pela pesquisa são usuários desse tipo de transporte.

Em geral, o que a pesquisa revela, é a falsa ilusão de que todos os problemas serão resolvidos quando o cidadão adquirir seu carro. Apesar de todos os problemas do trânsito caótico das cidades brasileiras, as pessoas ainda sonham com o transporte individual como se com ele, fosse possível alcançar o nirvana, o paraíso, a felicidade suprema. Ledo engano!

A barbárie do eu sozinho

Uma sociedade se constrói com a busca por soluções sustentáveis em que prevaleçam os interesses coletivos sobre os individuais. Obviamente numa democracia baseada nos pilares da livre iniciativa nos quais estamos inseridos, direitos individuais e de minorias devem ser respeitadas. Mas o que preocupa no atual cenário é a motivação, de uma parte significativa da população, pelo desejo de encontrar caminhos pessoais e particulares.

Por seu lado, as nossas autoridades públicas de olho nos votos e no atendimento a essas solicitações, gastam fortunas com obras viárias sem futuro estimulando o uso do transporte individual. Assim, as cidades vão sendo ocupadas, rasgadas e desfiguradas, para, ao invés de servir como espaço de convivência agradável para seus habitantes, transformar-se em vias congestionadas e cada vez mais estressantes e violentas.

Para que tenhamos qualidade de vida no futuro é preciso urgentemente frear esse processo insano e contraproducente. Construir as bases para uma cidade que priorize a implementação de políticas e investimentos de planejamento urbano garantindo a todos direitos iguais de acesso, mobilidade e de uso dos equipamentos e espaços públicos. Ações do poder público que não visem reduzir as enormes desigualdades e que não trilhem o caminho do desenvolvimento sustentável devem ser colocadas em segundo plano ou mesmo descartadas.

Diminui o entusiasmo pela energia nuclear

Buenos Aires, Argentina, 30/3/2011 – A catástrofe nuclear no Japão reabriu na América Latina o debate sobre a conveniência de avançar em planos de expansão de centrais atômicas. Por esse caminho seguirão Argentina e Brasil, que fizeram as apostas mais fortes, mas outros países que tinham apenas projetos, no momento os congelaram. Na região há cinco centrais nucleares operando. Duas estão na Argentina, que fornecem mais de 7% da eletricidade consumida no país, duas no Brasil, que somam 2,5% da matriz energética nacional, e uma com dois reatores no México, que atendem 2,3% da demanda.

Argentina e Brasil constroem cada um uma terceira central e seus governos se manifestaram decididos a manter esses planos, apesar das debilidades mostradas pelas centrais de Fukushima, severamente prejudicadas pelo tsunami ocorrido após o terremoto que atingiu o nordeste do Japão no dia 11. A crise nuclear no complexo de Fukushima ainda está em desenvolvimento e por isso não é possível saber o alcance dos danos que provocarão à saúde humana e ao meio ambiente o vazamento de radiação.

Na Argentina opera a Atucha I, na província de Buenos Aires, a cem quilômetros da capital do país, que funciona desde 1974 com potência de 370 megawatts. Há também a usina de Embalse, na província de Córdoba, em funcionamento desde 1984, que gera mais de 600 megawatts.

O programa nuclear argentino, congelado em meados da década de 1990, foi retomado em 2004 pelo governo de Néstor Kirchner, falecido no ano passado. Nesse contexto, a previsão para este ano é o término das obras de Atucha II, localizada junto a Atucha I, mas com o dobro de potência. Também está em processo o prolongamento da vida útil dos dois reatores mais antigos, com milionários investimentos para aumentar sua segurança.

"Não encontro razões técnicas para que a Argentina adie seus projetos nucleares pelo que aconteceu no Japão", disse à IPS o engenheiro Jorge Barón, professor da Universidade Nacional de Cuyo. "Acredito que existam ensinamentos para melhorar nossos planos de gestão de emergência. Nossas centrais têm altos padrões de segurança, com inspetores da Autoridade Reguladora Nuclear residentes nos próprios complexos e planos de emergência testados para que um acidente não tenha impacto relevante na população próxima. Entretanto, isto não significa que acidentes não possam ocorrer", acrescentou.

A Argentina participa da Convenção de Segurança Nuclear, um convênio pelo qual os países com centrais atômicas informam eventos e se supervisionam mutuamente. "Na última vez, este país revisou a segurança nuclear da Alemanha e depois os alemães fizeram o mesmo na Argentina. É um excelente método para detectar falhas", explicou Jorge. "O projeto de extensão da vida útil de Embalse aumentará seus níveis de segurança e colocará a central na crista da onda", disse o especialista, utilizando uma metáfora pouco apropriada por estes dias.

Por sua vez, o engenheiro Rodolfo Touzet, da Comissão Nacional de Energia Atômica, assegurou à IPS que as centrais argentinas possuem um sistema de contenção "muito melhor" do que as japonesas, de dupla cobertura – aço e concreto – apesar de não estarem submetidas a risco de catástrofes naturais como as do Japão.

No Brasil, as centrais estão localizadas em Angra dos Reis, 170 quilômetros ao Sul da cidade do Rio de Janeiro. Angra I, inaugurada em 1985, já prolongou sua vida útil e tem potência de 657 megawatts, enquanto Angra II opera desde 2001 e produz 1.350 megawatts. No ano passado, foi retomada a construção de Angra III, que até 2015 também produzirá outros 1.350 megawatts.

"Até agora, nenhum país declarou explicitamente que vai interromper seu programa de geração termonuclear por causa do desastre no Japão. O que se diz é que serão verificados os sistemas de segurança das usinas em funcionamento", disse à IPS Francisco Rondinelli, da Associação Brasileira de Energia Nuclear.

Por sua vez, Carlos Figueiredo, engenheiro da estatal Nuclebras Equipamentos Pesados, que produz equipamentos para centrais, destacou que a estrutura atômica brasileira é muito diferente da de Fukushima. "Nossa segurança é total porque depende de mecanismos naturais. A água para esfriar os reatores está em um depósito elevado e cairá por força da gravidade, sem exigir energia", afirmou. Além disso, os reatores são de água pressurizada, mais seguro do que os de água fervendo usados no complexo japonês, acrescentou.

Tanto na Argentina quanto no Brasil, os reatores são operados por empresas estatais e os órgãos de regulamentação, embora façam parte do sistema público, são integrados por especialistas independentes, asseguraram os especialistas consultados.

Ao contrário dos dois grandes países sul-americanos, o México, que nos últimos anos havia namorado um aumento de seu parque atômico, agora se mostra menos decidido. O diretor da Comissão Nacional de Segurança Nuclear e Salvaguardas, Juan Eibenschutz, disse este mês que não há nenhum plano de expansão em seu país. "O México deve abandonar a energia nuclear o mais rápido possível porque é suja, cara e ineficiente, além de depender de tecnologia estrangeira", disse à IPS Eduardo Rincón, especialista em energia da Universidade Autônoma da Cidade do México.

O complexo Laguna Verde, operado pela Comissão Federal de Eletricidade, localizado no Estado de Veracruz, ligou seu primeiro reator em 1989 e somou outro em 1995, que produzem quase 1.400 megawatts. O plano estratégico da Comissão contemplava construir entre dois e dez reatores até 2028, embora ainda não tenham sido dados passos nessa direção. Laguna Verde emprega tecnologia semelhante à de Fukushima, já que produz com água em ebulição.

Nos três países, houve eventos que obrigaram a ajustar medidas de segurança e também acidentes com material radiativo, nenhum de grande magnitude.

Em razão do crescimento econômico da América Latina, países que nunca haviam incursionado nesse campo começaram a analisar a alternativa nos últimos anos. A Venezuela foi um deles, mas o acidente no Japão levou o presidente Hugo Chávez a se comprometer a congelar os planos que estavam em um nível preliminar. Também o Chile, que se mostrava mais decidido a avançar nesse caminho, agora resolveu adiar. "Durante nosso governo não será construída nem planejada nenhuma usina de energia nuclear", assegurou o presidente Sebastián Piñera esta semana, após visita de seu colega norte-americano, Barack Obama.

Embora esses dois países tenham assinado um convênio de cooperação científica nuclear, a ideia é estar preparado e com conhecimento dessa alternativa, nada mais, destacou Piñera. Há exatamente um ano, o Chile sofreu um terremoto de magnitude quase igual à do que atingiu o Japão seguido de um maremoto que deixou cerca de 600 mortos.

O físico nuclear Roberto Morales, da Universidade do Chile, disse à IPS que seu país "ainda não está preparado para ter uma usina nuclear", embora não sem descartar a opção. "Os dispositivos de segurança dos reatores podem funcionar em qualquer parte do mundo", disse, mas para isso falta um núcleo maior de recursos humanos, acrescentou. Envolverde/IPS

Água e radiação nuclear: as lições de Fukushima e Yodobashi

Já está circulando a revista ECO 21 de marçõ de 2011. Uma das principais publicações sobre meio ambiente e sustentabilidade no Brasil, a ECO 21 deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial e índice da edição.

Editorial

A contaminação radioativa chegou à água de Tókio. Enquanto as autoridades do Governo Central do Japão minimizavam a real dimensão da tragédia nuclear, o Departamento de Obras Hidráulicas da Prefeitura de Tókio detectava na Planta de Tratamento de Água de Yodobashi índices radiativos acima do normal recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Nem mesmo depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki a Planta de Yodobashi tinha registrado radiação na água que abastece a cidade de Tókio.

A empresa operadora da central nuclear de Fukushima, a Tokyo Electric Power, desde o início do vazamento radioativo, propositalmente não informou os dados verdadeiros que foram revelados pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Fukushima, hoje, está perigando ser o maior acidente nuclear da história superando largamente Chernobyl e as centenas de acidentes chamados "menores" acontecidos em usinas nucleares da Europa e dos Estados Unidos. Os japoneses estão em vias de não poder beber, nem usar para cozinhar a água das torneiras; tampouco podem comprar verduras e alimentos produzidos num raio de 100 km de distância dos 4 reatores que explodiram.

Fukushima transformou-se num divisor de águas para a energia nuclear no mundo inteiro. Alemanha já decidiu desativar as centrais nucleares mais antigas; a Suíça optou por estudar mais devagar seu projeto energético atômico e até a China, que tinha previsão de construir mais de vinte centrais nucleares está reavaliando a sua matriz energética. A Índia parou todos os projetos, mesmo as usinas em construção. Este fato pode ser interpretado como um alerta para o Brasil. Espera-se que o Congresso Nacional analise em profundidade os prós e os contras em continuar com Angra 3. Todos sabem que se acontecer uma emergência nuclear em Angra não haverá rota de escape segura para as milhares de pessoas que moram no primeiro círculo de segurança de 5 quilômetros, nem para os agricultores, caboclos e caiçaras que habitam o entorno dessa região do Estado do Rio.

 A caminho da RIO+20, sendo uma referência mundial em energias limpas, o Brasil continua a aventura nuclear sem um Órgão Regulatório Independente. Hoje, o controle de todas as atividades nucleares, desde a pesquisa, produção de radioisótopos, prestação de serviços, o ensino para a especialização e de pós-graduação é exercido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear o que é expressamente proibido pelo "Protocolo da Convenção Internacional de Segurança Nuclear", do qual o Brasil é signatário. Este fenômeno administrativo leva à leniência em relação ao licenciamento e a fiscalização, isto é, a uma estrutura administrativa de convivência conflituosa que não permite mínimas garantias de independência para exercer as suas funções. No Dia Mundial da Água, somos solidários aos japoneses, infelizmente, ameaçados de não poder beber nem uma gota procedente da Planta de Yodobashi.

terça-feira, 29 de março de 2011

Morre aos 79 anos José Alencar

O ex-vice-presidente José Alencar morreu nesta terça, às 14h45, por falência múltipla de órgãos, aos 79 anos, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O político mineiro lutava contra um câncer na região do abdômen.

. José Alencar lutava contra o câncer havia 13 anos, mas nos últimos meses, a situação se complicou.

Saiba o que votará esta semana a Assembleia do RS

Somente as discussões de bastidores animarão esta semana a Assembleia Legislativa do RS, porque apenas dois projetos já debatidos à exaustão estarão em exame:
1) PL 84/2011, que altera parâmetros para a cobrança judicial de dívidas de ICMS
2) PL 96/2011, que reajusta o mínimo regional.

. Os dois projetos poderão constar da ordem do dia desta terça-feira.

POLÍTICA NO RIO GRANDE DO SUL

Entenda melhor por que o eleitor parece preferir Manuela para Porto Alegre

Muito mal na foto, o PT de Porto Alegre estrilou porque os nomes da ministra Maria do Rosário e do vereador Adeli Sell não foram incluídos na pesquisa de intenção de votos para prefeito de Porto Alegre.

. O Instituto Methodus agiu como devia.

. Afinal de contas, o PSDB também não incluiu Yeda e o PMDB passou ao largo de nomes como Ibsen Pinheiro ou Rigotto.

. A seguir, os resultados  do cenário número 2, o mais provável dos quatro cenários apresentados ao eleitor:
Manuela D'Ávila, PCdoB, 25%/ Ana Amélia, PP, 21,3%/ José Fortunatti, PDT, 17,5%/ Raul Pont, PT, 13%/ Onyx, DEM, 6,5%/ Marchezan Júnior, PSDB, 2%/ Sebastião Mello, PMDB, 2,3%.

. A posição da deputada Manuela D'Ávila não surpreende, porque nas últimas eleições ela só por um detalhe ela não foi para o segundo turno contra José Fogaça. Jovem, bonita, simpática, aparentemente anódina, a deputada escamoteia com maestria a sua condição de comunista e faz um discurso alienado para conquistar o coração dos eleitores despolitizados.

. A única posição surpreendente é da jornalista Ana Amélia Lemos, eleita senadora no ano passado. Ana é do PP e disputou sua primeira eleição da vida em 2011. O editor soube que o PP não quer vê-la na disputa, porque pretende preservá-la para o Piratini.

. Isto tudo ainda é muito prematuro, porque as alianças sequer são consideradas na pesquisa.

- Não estão bem na pesquisa o prefeito José Fortunatti, que ocupa o terceiro posto, e o governador Tarso Genro, porque os candidatos do seu Partido mal emplacam uma quarta posição.

POLÍTICA NO RIO GRANDE DO SUL

Marchezan Júnior enfrentará dois adversários dentro do PSDB

A renúncia do prefeito José Sanchotente Felice não significa que o deputado Marchezan Júnior será candidato único à presidência do PSDB do RS. Ele tem o apoio de toda a bancada estadual.

. Até o final desta segunda-feira, prazo fatal para a inscrição das chapas, além de Marchezan Júnior, disputarão a vaga outras duas chapas, uma delas liderada por um dos fundadores, Thomaz Wonghon, e outra comandada por integrantes da lista que era liderada por Sanchotene Felice.

- As eleições no PSDB sairão no dia 7 de abril.

Diesel, combustível que mais polui, já responde por 53% das emissões de CO2




O diesel, usado principalmente no transporte de carga, é o combustível que mais tem colaborado para as emissões pelos escapamentos de dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa, no Brasil. Em 2009, o diesel respondeu por 53% das emissões do transporte rodoviário do País, seguido pela gasolina, com 26%.

O primeiro inventário nacional de emissões veiculares mostra que a grande participação desse derivado do petróleo nas emissões de gases que provocam o aquecimento global tende a se manter: em 2020, deve ser responsável por 49% das emissões de CO2.
Setor de celulose e organizações ambientalistas apresentam proposta de consenso para o Código Florestal

O setor de celulose e organizações ambientalistas apresentaram nesta quinta-feira (24) um proposta conjunta de mudança no Código Florestal. O texto tem 16 pontos e pretende ser consenso entre as demandas do agronegócio e das instituições da sociedade civil de defesa do meio ambiente.

O documento defende que a legislação incorpore mecanismos de incentivo à preservação e à recuperação de áreas de mata, como o pagamento por serviços ambientais e os créditos de carbono. Segundo o diretor da organização não governamental (ONG) Amigos da Terra, Roberto Smeraldi essa é uma das principais diferenças em relação ao projeto de novo Código Florestal, que tem o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) como relator.

"O Código Florestal deve prever incentivos econômicos em vez de multas e sanções", ressaltou a presidenta da Associação Brasileira de Celulose e Papel [Abracelpa], Elizabeth Carvalhaes. O diretor do Instituto BioAtlântica, Beto Mesquita, defende que esses incentivos, além de estarem adequados à necessidade de preservação, devem chegar à demanda por recuperação da cobertura florestal.

Por isso, ressaltou Smeraldi, o texto apresentado hoje não contempla anistia para proprietários que desmataram mais do que o permitido, ao contrário do previsto na proposta de Rebelo. Não há também isenção da reserva legal para pequenas propriedades ou moratória do desmatamento. O projeto do Código Florestal estipula que a derrubada da mata seja proibida por um prazo de cinco anos após a sua aprovação.

Para Smeraldi, essas diferenças marcam a essência da proposta. O texto busca, de acordo com ele, trazer soluções duradouras para os problemas relativos à preservação e produção. O ambientalista ressaltou que o projeto foi pensado "com uma ideia de futuro e não de resolver passivos tópicos".

Entre os pontos controversos que o projeto aborda está a questão das áreas de proteção permanente (APPs). A vegetação que protege regiões frágeis, como cursos de água, poderia entrar no cálculo da reserva legal, percentual de mata nativa que deve ser preservada dentro da propriedade. Isso com algumas restrições, entre elas, que não haja a conversão de novas áreas. Não há, no entanto, a previsão de diminuir o tamanho das APPs, como proposto por Rebelo.

Gestão ambiental requer uma visão mais ampla

Numa época em que inovação e sustentabilidade devem andar juntas, afinadas com as exigências técnicas e legais na área de meio ambiente, o conceito de gestão ambiental ainda parece estar restrito à gestão de resíduos. A realidade, porém, tem mostrado que as atribuições do gestor ambiental estão mais complexas e trazem a necessidade de uma visão mais ampla de seu papel.

Este é o ponto de partida do Encontro de Gestão Ambiental, evento que a Jetro Ambiental realiza no próximo dia 09 de abril, em Mairiporã (SP). Segundo o diretor da empresa e organizador, Jetro Menezes, a ideia partiu da constatação de que muitos profissionais formados nessa especialidade não estão atuando na área. "Resolvi fazer um evento para esse público, mas depois achei melhor incluir todos os interessados, e trazer profissionais da área", diz.

Para escolher os palestrantes, o critério foi a necessidade de saber como governo e empresas estão atuando na área ambiental. Os convidados que vão representar esses setores são o Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Jorge, e Mário Hirose, diretor de Meio Ambiente da Fiesp. Eles responderão perguntas de um público variado, que pode ser desde o funcionário responsável pelo lixo numa empresa até o secretário municipal de uma outra Prefeitura. Estudantes de gestão ambiental, segundo Jetro Menezes, são presença importante. "O mercado está num momento um pouco confuso. Os recém-formados ficam disponíveis no mercado sem saber direito o que fazer e a quem procurar", explica.

Além das palestras, o Encontro prevê a exibição de um filme premiado internacionalmente sobre coleta seletiva. Oficinas vão ensinar a fazer papel reciclado e brinquedos com garrafas de plástico. No passeio pelo campus da faculdade, os participantes vão poder contemplar as belezas naturais, em companhia da personagem "Maria do Lixo" e suas performances. Serão sorteados kits para fazer papel reciclado e algumas empresas do setor que apóiam o evento vão expor seus produtos.

A escolha do local também é estratégica: um local afastado dos prédios da cidade de São Paulo, com extensa área verde, animais, pessoas à vontade para trocar idéias e informações sobre a gestão ambiental nos mais variados setores. Depois de pesquisar alguns locais, a opção foi o Instituto Mairiporã, uma instituição que abriga colégio e faculdade numa estrutura diferenciada. "É um lugar muito bonito, cheio de história, que parece uma cidade cenográfica, e ainda com aves soltas, acostumadas às pessoas. Perfeito para falar de meio ambiente, receber uma bateria de informação e sair motivado, para que todos saiam com o espírito renovado, seja para atuar em empresas, órgãos públicos, ONGs, em casa ou na escola."

Falta de informação

Para Jetro Menezes, falta uma visão mais abrangente, holística da gestão ambiental. "Por exemplo, um fiscal sai pra fazer uma vistoria para determinar o corte ou a poda de uma árvore, mas não observa os aspectos sociais, humanos. A árvore está prestes a cair na cabeça do morador, mas o corte ou a poda não é autorizada. Uma outra pessoa quer organizar a coleta seletiva, sem buscar a parceria com cooperativas de catadores. Um funcionário responsável pelos resíduos sólidos de uma empresa não conhece nada sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos e o seu respectivo Plano de Gestão", diz. "Não sei se falta informação, mas talvez especialização, experiência, conhecimento de outros caminhos dentro desse tema. A questão ambiental é cheia de novidades, nuances que um profissional recém-formado deve saber para ter menos dificuldades depois."

Ele explica que criou o evento para trocar ideias, tirar dúvidas, informar e "dar uma nova vida" ao gestor ambiental. "Queremos estimular os gestores ambientais ou futuros gestores a enxergar essa questão de forma holística. Num projeto ambiental, a vizinhança de uma empresa, por exemplo, deve ser considerada. Gestão ambiental é sempre socioambiental. Não podemos permitir que em pleno século XXI ainda existam profissionais sem uma visão multidisciplinar."

Jetro Menezes fez o caminho inverso na vida profissional. Ele iniciou nesta área em 1993 e só se formou em Gestão Ambiental há cinco anos. Fundou uma ONG, participou de várias discussões políticas sobre meio ambiente, pesquisou o tema em várias fontes, buscou cursos ou palestras, livros, aprendeu a fazer papel reciclado manual para sobreviver, trabalhou em empresa de coleta de lixo, coordenou a coleta seletiva da Prefeitura de São Paulo, implantou programas de coleta seletiva, ministrou palestras e treinamentos sobre resíduos sólidos e hoje é consultor ambiental e atual diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Franco da Rocha. "São mais de 15 anos envolvido com meio ambiente. Mas quando não sei, pesquiso, pergunto, leio. Sempre temos novidades nesta área. Não podemos parar de pesquisar."

segunda-feira, 28 de março de 2011

Conheça os benefícios da coleta seletiva

Papel

  •  A cada 28 toneladas de papel reciclado evita-se o corte de 1 hectare de fl oresta (1 tonelada evita o corte de 30 ou mais árvores);
     
  • A produção de uma tonelada de papel novo consome de 50 a 60 eucaliptos, 100 mil litros de água e 5 mil KW/h de energia. Já uma tonelada de papel reciclado consome 1.200 Kg de papel velho, 2 millitros de água e 1.000 a 2.500 KW/h de energia;
  • A produção de papel reciclado dispensa processos químicos e evita a poluição ambiental: reduz em 74% os poluentes liberados no ar e em 35% os despejados na água, além de poupar árvores;
     
  • A reciclagem de uma tonelada de jornais evita a emissão de 2,5 toneladas de dióxido de carbono naatmosfera;
     
  • O papel jornal produzido a partir das aparas requer 25% a 60% menos energia elétrica do que a necessária para obter papel da polpa da madeira.
     
Metais
  • A reciclagem de 1 tonelada de aço economiza 1.140 Kg de minério de ferro, 155 Kg de carvão e 18 Kgde cal;
     
  • Na reciclagem de 1 tonelada de alumínio economiza-se 95% de energia (são 17.600 kwh para fabricar alumínio a partir de matéria-prima virgem, contra 750 kwh a partir de alumínio reciclado) e 5 toneladas de bauxita, além de evitar a poluição causada pelo processo convencional, reduzindo 85% da poluição do ar e 76% do consumo de água;
     
  • Uma tonelada de latinhas de alumínio, quando recicladas, economiza 200 metros cúbicos de aterros sanitários;
     
  • Vale lembrar que que 96% das latas no Brasil são recicladas, superando os índices de países como o Japão, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal. Entretanto, este número pode chegar próximo a 100% dependendo de suas atitudes!
Vidro
  •  O vidro é 100% reciclável, portanto não é lixo: 1 kg de vidro reciclado produz 1 kg de vidro novo;
  • As propriedades do vidro se mantêm mesmo depois de sucessivos processos de reciclagem, ao contráriodo papel, que vai perdendo qualidade ao longo de algumas reciclagens;
     
  •  O vidro não se degrada facilmente, então não deve ser despejado no solo;
  • O vidro, em seu processo de reciclagem, requer menos temperatura para ser fundido, economizando aproximadamente 70% de energia e permitindo maior durabilidade dos fornos;
     
  • Uma tonelada de vidro reciclado evita a extração de 1,3 tonelada de areia, economiza 22% no consumo de barrilha (material importado) e 50% no consumo de água.

     
Plásticos
  • Todos os plásticos são derivados do petróleo, um recurso natural não renovável e altamente poluente;
  • A reciclagem do plástico economiza até 90% de energia e gera mão-de-obra pela implantação de pequenas e médias indústrias;
     
  • 100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de 1 tonelada de petróleo.

 
Em carta, bispo do Xingu afirma que índios não foram ouvidos sobre Belo Monte
 

 bispo entregou a carta �sub-procuradora, em bras�ia
Dom Erwin Kräutler entregou a carta à subprocuradora-geral da República, Deborah Duprat, no qual denuncia falhas sobre a falta da participação das comunidades indígenas que serão atingidas pela usina/Foto:
Valter Campanato/ABr

Em mais uma tentativa de impedir a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), o presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e bispo da prelazia do Xingu, dom Erwin Kräutler, entregou na sexta-feira, 25 de março, à subprocuradora-geral da República, Deborah Duprat, uma denúncia sobre falhas na participação das comunidades indígenas que serão atingidas pelo empreendimento.

O Cimi argumenta que as oitivas indígenas, audiências para ouvir a opinião das comunidades sobre a obra, não foram realizadas, o que contraria à Constituição Federal. "Os índios não foram ouvidos até agora", denunciou o bispo. A entidade afirma que houve apenas reuniões informativas sobre a usina, que posteriormente foram consideradas como oitivas pelo governo.

De acordo com a advogada do Cimi, Denise da Veiga, a falta de oitivas indígenas também desrespeita a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário desde 2004. "A Convenção 169 determina que hajam consultas prévias, informadas, e de boa fé, em todos os empreendimentos que coloquem em risco direitos territoriais e a manutenção da economia dos povos indígenas", reforçou.

As áreas onde ficam as comunidades não serão alagadas pela barragem da usina, mas, segundo Denise, as mudanças no curso do rio vão prejudicar a pesca e a locomoção dos indígenas. "O rio vai secar, eles vão ficar sem água", alertou.

De acordo com a advogada do Cimi, as audiências públicas feitas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) durante o processo de licenciamento ambiental da usina não substituem as oitivas indígenas.

Dom Erwin Kräutler relatou que as reclamações foram recebidas "com preocupação" pela subprocuradora-geral. O Ministério Público Federal (MPF) já ingressou com dez ações judiciais contra as obras de Belo Monte. Os processos aguardam julgamento de mérito. Na última tentativa, em fevereiro, o MPF conseguiu uma liminar para impedir o início das obras, mas a medida foi derrubada pela Justiça uma semana depois.

Em carta aberta divulgada na sexta-feira, o bispo reclama da falta de diálogo do governo com as comunidades que serão atingidas pelo projeto. "Solicitei uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff para apresentar-lhe, à viva voz, nossas preocupações, questionamentos e todos os motivos que corroboram nossa posição contra Belo Monte. Lamento profundamente não ter sido recebido."

O bispo foi convidado para uma audiência com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, mas recusou. "Declinei do convite em consequência do diálogo [com Dilma] que não houve".



Marina Silva
O verde não é partido
Por Marina Silva

Os quase 20 milhões de brasileiros que me deram seus votos na eleição presidencial do ano passado possivelmente tinham em mente que até poderiam não estar elegendo, naquele momento, a presidente da República, mas, com certeza, estavam elegendo uma expectativa de mudança profunda na política e na adoção do olhar socioambiental como eixo estratégico de organização da sociedade e de estruturação do Estado. Precisamos honrar o crédito dessa expectativa, sob o risco de, eu e o PV, nos transformarmos em devedores de credibilidade, sonhos e esperança. Agora é o momento de mostrar com clareza e sinceridade que vamos saldar nossa conta.

Construir no país uma nova força política significa muito e não se pode confundir tal missão com cálculos imediatistas, nem com vaidades, nem com candidaturas. Não podemos ignorar a oportunidade que a sociedade brasileira nos deu de fazer História.

Agora é o momento de confirmar o que nos une, acima de divergências, erros e dificuldades de comunicação. E de traçar, a partir daí, a estratégia partidária que dialogue com a realidade política do país, mas como pólo inovador e não como mais uma usina de atraso. A esperança não pode ser traída pelas tentações do poder ou pela acomodação aos hábitos, aos costumes, às facilidades. Não estamos agora discutindo futuras candidaturas à Presidência da República ou a quaisquer outros cargos. Estamos discutindo de que matéria essas candidaturas serão feitas: da revitalização da essência democrática do espaço público, ou de política convencional, sem conexão com a sociedade, sem alma, sem causas.

Estamos discutindo aquilo que colocamos em perspectiva lá no início da campanha política de 2010, ou seja, a promessa de reestruturar o PV e, a partir de sua democracia interna, sua postura e seu programa, arejar a cultura política brasileira e apresentar propostas de desenvolvimento compatíveis com o que se espera no futuro, no século 21. Hoje, não há outro assunto mais importante do que esse, porque ainda não nos acertamos, nos detalhes, para seguir nessa direção. E se não é esta a direção, estaremos nos desconstituindo enquanto promessa e negando a própria gênese do PV no mundo.

Muitas vezes falei - falamos - da insatisfação da sociedade, da
frustração da juventude com a incapacidade do sistema político para promover o bem-comum e para gerar dinâmicas democráticas verdadeiras em todas as esferas do processo de tomada de decisões de caráter público. Falei, falamos, dos avanços sociais, democráticos e econômicos conquistados com o processo de redemocratização do país, principalmente de FHC a Lula, mas também falei e falamos da necessidade de ir adiante na prática política e na concepção e prioridades do desenvolvimento.

O centro vital propositivo de nosso programa moldou-se a partir de três fontes poderosas de significados: a sustentabilidade, a educação e a renovação política. Não podemos abrir mão de nenhuma delas, ou gangrenamos. Em especial, se deixarmos de lado a renovação política dentro do partido, acabou-se a moral para falar de sonhos, de ética, de um mundo mais justo e responsável com o meio ambiente. Podemos até continuar falando, mas soará falso, como voz metálica de robô.

É impossível negar os problemas. É preciso termos mútua tolerância e respeito à nossa diversidade; é imprescindível termos a paciência para o desconstruir/reconstruir responsável e paulatino. Só não podemos deixar de fazer ou abrir mão do que é essencial. E essa é uma decisão coletiva a ser tomada com clareza, à luz do sol, sem nenhuma dúvida. E a clareza se constrói no cotidiano de nossas pequenas ações e intenções, debruçando-nos, dentro do partido, sobre os passos necessários para atingir aquilo que pregamos para fora: a mudança. Não há como recuar de nossa própria reforma política, e há que encará-la com a coragem e o desprendimento que faltam ao sistema como um todo.

Esse novo jeito de fazer política requer enfrentar a crise geral pela qual passam os partidos, que de instrumentos de representação e avanço social cristalizaram-se como máquinas burocráticas, amorfas e voltadas para a conquista do poder pelo poder, muitas vezes não importando os meios, e abandonando a disputa programática pela simples disputa pragmática.

Em contraposição, podemos criar um partido em rede, capaz de dialogar com os núcleos vivos da sociedade para realizar as transformações de uma forma radicalmente democrática. E a disposição do Partido Verde não pode ser menor do que iniciar, nele mesmo, esse movimento de mudança.

Temos que chegar a uma proposta que reflita esse destino histórico escolhido, apregoado e aceito e abraçado por quase 20 milhões de pessoas.

Considero esse projeto que emergiu da campanha eleitoral de 2010 como um legado. Não é uma espécie de espólio a ser dividido entre herdeiros, mas, sim, um conjunto de propostas que podem e devem ser apropriadas pela sociedade e até mesmo por outros partidos e políticos. Meu maior desejo e, creio, de muitos novos e antigos filiados que participaram ativamente dessa campanha, é que o PV discuta profundamente o significado dessa eleição e incorpore novas práticas ao seu longo e rico percurso de construção partidária.

Por isso, parecia natural que o caminho adotado na reunião da Executiva Nacional, em Brasília, fosse o da adoção inconteste do novo jeito de fazer política. Mas essa não foi a tônica. Ao contrário, a decisão da Executiva Nacional de ampliar seu mandato por até um ano e, assim, postergar qualquer mudança endógena imediata, vai na contramão do que foi dito na campanha e do compromisso feito perante o país.

A ampliação do mandato, segundo seus proponentes, é necessária para a realização de seminários, discussões e aprovação de propostas de democratização do partido. Não creio que o aprofundamento da democracia possa ser feito através da supressão, mesmo que temporária, da pouca democracia ainda existente.

No PV, a maiorias das Executivas Estaduais são provisórias, designadas pelo presidente do partido. O mesmo acontece com a totalidade das Executivas Municipais, designadas pelos presidentes estaduais. Praticamente não há convenções municipais e estaduais ou eleições diretas de dirigentes. Esses mecanismos provisórios têm sido vistos como forma de proteger o partido de atitudes oportunistas e da pressão do poder econômico. Agora, eles nos isolam da sociedade, nos fragilizam no que pode nos tornar mais fortes que é a nossa coerência e não nos protegem nem de nós mesmos.

Quero participar das discussões para propor formas mais democráticas de organização partidária, juntamente com todos que estiverem de fato motivados a abrir o partido para a energia revitalizante que vem da sociedade. Lembro que a proposta de adequar o PV a esses novos tempos foi feita pela própria Executiva Nacional, quando do convite feito a mim para ingressar no partido. Ouvi do próprio presidente que a atualização programática e democratização do PV já eram um movimento em curso, uma determinação da própria direção e, acrescento agora, uma imposição da realidade, um desaguadouro natural dos 25 anos de Partido Verde no Brasil.

Por isso, o que está em jogo é se o PV vai fortalecer tudo de positivo que foi construído nesses 25 anos, afastando de vez a zona sombria que ainda envolve o partido. Se beberá da fonte do impulso criativo de milhões de jovens, homens e mulheres que voltam a se apaixonar pela política e se dispõem a colaborar com os verdes. Se vai pegar a trilha civilizatória que se abre no mundo todo, apesar das forças reacionárias de todo tipo que teimam em manter seus status quo à custa de um futuro melhor para a humanidade e para o planeta.

Estou no PV não como plataforma para candidaturas. Estou porque o respeito e vi no partido, pela sua história e pelo que conversamos antes de minha entrada, uma coragem, um arejamento, um frescor juvenil no melhor sentido de ousar mudar, de querer o aparentemente impossível. Reafirmo meu desejo de permanecer neste Partido Verde, contribuindo para o seu crescimento e qualidade política. Estou confiante que a militância verde, seus amigos e simpatizantes, além de todas as pessoas que querem o jeito novo de fazer política, contribuirão para o reencontro do PV consigo mesmo. Tenho plena convicção, como dizia Victor Hugo, de que forte é "a idéia cujo tempo chegou". Não vamos deixar o nosso tempo passar. Ele está aqui, em nossas mãos e em nossos corações.


Marina Silva

Pedagoga e Senadora pelo PV-AC
Esta coluna é a reprodução dos textos de Marina Silva publicado às segundas-feiras no jornal Folha de São Paulo.

Os custos econômicos e sociais do desperdício

Em quatro anos, mais da metade das cidades brasileiras terão problemas sérios de abastecimento de água.

Quando a colônia brasileira começou a ser ocupada em 1500, e os europeus começaram a fundar cidades, pequenas fontes de água bastavam para abastecer uns poucos cidadãos e animais. Ficar perto de grandes rios não era parte dos planos de José de Anchieta e Manoel da Nóbrega. O Colégio dos Jesuí-tas fincou pé num outeiro, lugar apropriado para se defender dos possíveis ataques de índios, mas com muito pouca água. Contudo, dessa vila nasceu São Paulo, metrópole de quase 20 milhões de habitantes que precisam de cerca de 80 litros de água tratada por pessoa, ao dia, para suas necessidades domésticas. Um volume que já não consegue mais ser atendido pelos mananciais próximos, que, pelos critérios da ONU, têm sete vezes menos a capacidade necessária à população que atendem. É preciso ir buscar o líquido cada vez mais longe e tratar águas cada vez mais poluídas, a fim de torná-las próprias para o consumo.

Um levantamento recém-divulgado pela Agência Nacional de Água (ANA) aponta que o problema do abastecimento é generalizado pelo País. Dos 5.565 municípios brasileiros, mais da metade terão problemas de abastecimento até 2015. E para tentar adiar o problema por ao menos uma década será preciso desembolsar 22 bilhões de reais em obras de infraestrutura, construção de sistemas de distribuição, novas estações de tratamento e manutenção de redes muito antigas, que perdem mais de 30% da água tratada antes de chegar à casa dos clientes. E nesse valor não estão incluídos os recursos necessários para resolver o problema do saneamento básico, com a construção de sistemas de coleta de esgoto e estações de tratamento, de forma a proteger os mananciais onde se faz a captação para consumo humano. Para isso, segundo a ANA, serão necessários outros 47,8 bilhões de reais.

Os investimentos não são necessários apenas porque 13% dos brasileiros não têm um banheiro em casa, ou porque mais de 700 mil pessoas entopem os serviços de saúde a cada ano em virtude de doenças provocadas pelo contato com água contaminada por esgotos, ou ainda porque sete crianças morrem por dia vítimas de diarreia, engrossando a estatística de mortes por problemas gastrointestinais (em 2009, elas somaram 2.101 casos). Acredita-se que mais da metade poderiam ter retornado com saúde para suas famílias, ou mesmo nem ter ficado doentes, caso o Brasil estivesse entre as nações que oferecem saneamento básico universal à população.

Para tornar a situação ainda mais dramática, um pesquisador da Universidade do México, Christopher Eppig, concluiu: crianças que enfrentam doenças, principalmente ligadas a diarreia e desidratação, podem ser afetadas em seu desenvolvimento intelectual. Segundo ele, a explicação é simples. Alguns parasitas alimentam-se de partes do corpo humano e a reposição desse dano tem alto custo energético. "Em um recém-nascido, 87% das calorias absorvidas na alimentação vão para o cérebro, porcentagem que cai para 23% na fase adulta. Daí a preocupação em se saber se doenças que "roubam" energia das crianças podem afetar seu desenvolvimento intelectual."

Especialistas apontam que a questão da água, ao menos no caso brasileiro, está mais ligada a problemas relacionados à gestão do que à escassez propriamente dita. Com 12% da água doce superficial do planeta, grande parte dela na Bacia Amazônica, o País deveria estar tranquilo em relação ao futuro do abastecimento. Mas a distribuição da água pelo território é desigual, principalmente quando comparada à concentração da população. A Região Norte tem 68% da água e apenas 7% da população. O Nordeste e o Sudeste concentram 72% dos habitantes e menos de 10% da água. O cientista José Galizia Tundisi, autor do livro "Água no Século XXI" e especialista nas dinâmicas de rios, lagos e outros mananciais, acredita que uma das primeiras providências a serem tomadas para melhorar a gestão dos recursos hídricos é "realizar a avaliação econômica dos serviços prestados pelos recursos dos ecossistemas aquáticos". Para ele, instituir um valor para esses serviços é a base para uma governança adequada, essencial para o controle de clima, o abastecimento e a produção de energia e alimentos, entre outras atividades humanas.

Muitas empresas compreenderam o desafio e estão adiantadas na gestão dos usos de água em seus processos produtivos. A indústria de celulose, por exemplo, reduziu em quase 50% suas necessidades de água por tonelada de produto desde a década de 1970. Segundo a associação do setor, a média era de 100 metros cúbicos de água por tonelada de celulose e caiu para apenas 47 metros cúbicos atualmente. Outros setores seguiram a mesma linha, não apenas ao reduzir a quantidade de água necessária por unidade de produto, mas ao implantar sistemas de tratamento de águas industriais que permitem fechar o ciclo entre o uso e o reúso, como é o caso da germânica Basf em suas unidades do ABC Paulista e Guaratinguetá. Nos últimos dez anos, a companhia conseguiu reduzir em 78% o consumo de água por tonelada produzida e em 62% a geração de efluentes de seus processos industriais. São exemplos que poderiam ser difundidos por diferentes setores, pois a água é um insumo fundamental à agricultura e à indústria. Sua gestão não tem relação apenas com o bem-estar da população, mas com a saúde da economia.

Quase tudo que é produzido no País tem sua cota de água embutida. Os especialistas denominam de "água virtual". Como exemplo, para se produzir 1 quilo de arroz são necessários 3 mil litros de água, e 1 quilo de carne bovina precisa de 15,5 mil litros. Uma simples xícara de café não gasta menos do que 140 litros de água. Não é que essa água desapareça depois de servido o cafezinho, mas para se chegar aos produtos tão necessários nas mesas das pessoas é preciso que ela esteja não apenas disponível, mas limpa, isenta de contaminações por esgotos ou produtos químicos. E há mais. Para um automóvel chegar à garagem dos brasileiros, o consumo de recursos hídricos chega a 150 mil litros. Ou seja, a economia precisa, e muito, de água de boa qualidade. Isso sem mencionar o fato de que 18% das faltas de trabalhadores ao serviço poderiam ser evitadas com uma gestão mais eficaz dos recursos hídricos.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira, o estudo lançado pela ANA é um primeiro passo para um importante debate sobre como o estresse hídrico dos mananciais afeta o abastecimento das principais regiões metropolitanas e piora a situação da água em todos os municípios brasileiros. Para ela, é necessário encarar o fato de que a segurança no abastecimento de água é estratégica e que o recurso é escasso. "Precisamos investir na infraestrutura, mas também mudar a forma de usar esse recurso e coibir os desperdícios", disse na terça-feira 22, escolhido para ser o Dia Mundial da Água. Segundo a ministra, os investimentos necessários para minimizar os problemas com água, estimados pela ANA em 22 bilhões de reais, já estão sendo feitos em diversas esferas de governo, nas obras do PAC, do governo federal, e por estados e municípios. Ela lembra, porém, que existem fatores que dependem de mudanças de comportamento da sociedade. "Há um grande desperdício de água pelas populações e empresas que têm acesso ao recurso e não o tratam como um bem escasso."

A questão da gestão dos recursos hídricos passou por uma grande transformação no Brasil no fim do século passado, quando as empresas estaduais de água e saneamento perderam o monopólio do mercado. Muitas foram municipalizadas e outras privatizadas, além de terem continuado a existir companhias estaduais, como o caso da Sabesp, em São Paulo, uma referência para o setor. A Sabesp é a única empresa de saneamento a fazer parte do Índice Dow Jones Sustainability, e do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&F-Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo. Mas o período de mudanças no País não foi tranquilo nem a gestão privada se mostrou um bom negócio em todos os casos. A cidade de Manaus, por exemplo, foi a primeira capital a privatizar os serviços. O abastecimento não deveria, aliás, ser problema para um município que tem quase 10% da água doce do planeta a escorrer à sua porta pelos rios Negro, Solimões e Amazonas. Mas não é bem assim. Em 2000, a gestão foi transferida para a francesa Suez, a mesma que, por sua administração desastrada, quase provocou um golpe de Estado na Bolívia.

Para os franceses, parecia fácil. Havia muita água disponível e uma população de quase 2 milhões de habitantes que deveria pagar por ela. Tradicionalmente, o serviço público de água da cidade era muito ruim, portanto, "bastaria oferecer um bom serviço" para a conta fechar. Ledo engano. Como o serviço público nunca funcionou, a elite urbana da cidade nunca dependeu dele. A maior parte das casas e condomínios abastados tem seu abastecimento garantido por poços artesianos, um serviço que, depois de implementado, é de graça, sem conta mensal. A empresa francesa ficou apenas com a gestão do consumo da população pobre e com a obrigação de recolher o esgoto da cidade, pelo qual também não se pagava, uma vez que a taxa de esgoto está embutida na conta de água. Em 2007, a Suez saiu da sociedade com o grupo brasileiro Solvi e a Águas do Amazonas continua privatizada, mas agora sob a gestão de um grupo nacional que teve de renegociar as condições do contrato de concessão com a prefeitura.

Outro mau exemplo foi a municipalização da empresa de água em Guarulhos, uma das maiores cidades da região metropolitana da São Paulo. Apesar de ter uma rede de esgotos que abrange a maior parte do município, a companhia não trata um litro sequer do esgoto coletado. É de lá que vem a poluição que transformou o rio Tietê em um canal fétido e putrefato.

O esgoto não tratado tem impacto sobre outro setor estratégico da economia, o turismo. Principalmente no Nordeste, a presença de "línguas negras" a cruzar praias que deveriam ser refúgios ambientais assusta os operadores turísticos e preocupa o setor hoteleiro. Mas mesmo regiões do "Sul Maravilha", como Santa Catarina, muito buscada por turistas sul-americanos, padece da falta de infraestrutura. Florianópolis tem apenas 67% de acesso à rede de esgotos, enquanto o badalado município de Canavieiras tem pouco mais de 40% do esgoto coletado. As duas cidades têm as melhores redes estaduais. A quinta colocada não chega a tratar 3% dos dejetos.

Nos próximos anos, o Brasil vai receber grandes eventos internacionais, a começar pela Cúpula das Nações Unidas Rio+20, que reunirá chefes de Estado e de governo para debater os avanços e as crises ambientais do planeta. Em seguida virão a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Um dos indicadores fundamentais de desenvolvimento é o acesso à água de boa qualidade e a coleta e tratamento universal de esgotos, setores em que o País ainda tem muito a caminhar. Dados de 2007 do IBGE mostravam que 90% dos domicílios têm acesso a redes de água tratada. Na área rural, o número não passa de 50%, enquanto no caso da coleta e tratamento de esgotos os dados são completamente díspares. Vão de 40% a 77% de esgotos coletados. Mas apenas 36% passam efetivamente por uma estação de tratamento antes de serem devolvidos aos cursos d'água.

O pico da água já terminou

Uxbridge, Canadá, 28/3/2011 – Frequentemente se fala do "pico do petróleo" para definir o momento em que esse produto começar, irremediavelmente, a escassear. As medições indicam que a humanidade já passou o "pico da água" e, entretanto, continua a desperdiçá-la. O canadense Kevin Freedman pretende viver este mês com apenas 25 litros de água por dia para cozinhar, beber e limpar, bem abaixo dos 330 litros consumidos em média na América do Norte. Kevin convidou 31 pessoas para participar de sua iniciativa "Desafio para a Conservação da Água".

"No Canadá e nos Estados Unidos, as pessoas não têm ideia do quanto gastam e do quanto desperdiçam de água", disse à IPS Kevin, que tomou essa decisão acompanhando o Dia Mundial da Água, comemorado no dia 22. "Embora se gaste menos, é muito difícil usar apenas 25 litros por dia. Não dá para tomar banho nem usar a máquina de lavar. Espero criar uma consciência de que a água é um recurso finito", ressaltou.

Quase um bilhão de pessoas carecem de água potável, e esse número poderá duplicar em uma única geração na medida em que a demanda superar em 40% o fornecimento sustentável. A humanidade usa mais água do que poderia usar e esgota reservas não renováveis, acumuladas por mais de mil anos em aquíferos profundos. "Não é possível criar água, apenas geri-la", disse a especialista Margareth Catley-Carlson, ex-funcionária do governo canadense e da Organização das Nações Unidas.

A falta de água é um grande obstáculo para o desenvolvimento de muitos países e regiões, disse Margareth à IPS. A escassez provoca carestia de alimentos, doenças, instabilidade política e até conflitos armados. "O governo acredita que seu papel é distribuir o líquido à população e à indústria", acrescentou Margareth, diretora da Rede Canadense de Água. "Isso tem que mudar para ser possível gerir o recurso de forma sustentável, pelo bem da sociedade e do meio ambiente", prosseguiu.

Entretanto, as autoridades não consideram a água um recurso valioso, não mantêm em dia a rede de distribuição e perdem entre 20% e 50% do líquido que deve ser distribuído. Nem mesmo cuidam dela os países do Sul, que têm pouca água. Sua disponibilidade é responsabilidade de mulheres e pobres, que não estão bem representados no governo, explicou Margareth. Os poucos fundos públicos são destinados ao Exército e a outras prioridades. "É tão frustrante. Podemos viver sem petróleo, mas não sem água", ressaltou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon pediu urgência aos governos para que invistam nos países pobres no setor de água e saneamento, especialmente em zonas urbanas, onde existe grande necessidade e a demanda aumentou 20% na última década. "Há uma crise de governança, de políticas débeis e má gestão, mais do que de escassez", diz a declaração de Ban.

Em 2030, a demanda superará em 40% o fornecimento "acessível, confiável e sustentável do ponto de vista ambiental", segundo a pesquisa feita pela consultoria McKinsey e Cia. Um terço da população, concentrado nas nações em desenvolvimento, viverá em bacias onde o déficit hídrico será superior a 50%, concluiu o estudo "Charting Our Water Future" (Medição de Nosso Futuro Hídrico).

A agricultura consome cerca de 71% da água utilizada atualmente. Existe estreita relação com a disposição de alimentos, segundo a pesquisa. A irrigação inapropriada e ineficaz é responsável pelo gasto. São feitos cultivos que exigem muita água, como o milho, em lugares secos, como a Espanha. Até o açúcar, com baixo valor alimentício, é cultivado com sistema de irrigação em alguns lugares. "É um absurdo", lamentou Margareth.

Políticas erradas, subsídios como os concedidos aos biocombustíveis, acordos comerciais e maus hábitos são em grande parte responsáveis pela utilização irresponsável da água na produção de alimentos, explicou a especialista. O uso doméstico representa apenas 8% do consumo. A indústria é outro grande consumidor. Todos os produtos têm um componente hídrico, que se costuma chamar de "água virtual", para descrever o volume utilizado para fabricar algo.

"Por exemplo, um computador de escritório exige 1,5 tonelada de água, um par de calça jeans, mais de seis toneladas, um quilo de aveia, uma tonelada, um quilo de frango, entre três e quatro toneladas, e um quilo de carne, de 15 a 30 toneladas", explicou Nicholas Parker, presidente da Cleantech Group, empresa internacional que trata de acelerar o desenvolvimento e a adoção de tecnologias limpas.

O comércio mundial de "água virtual" superou 800 milhões de toneladas, equivalente a dez rios Nilo. "As pessoas não se dão conta de quanta água há em tudo o que fazemos ou compramos, de camiseta a vinho", insistiu Nicholas.

Todo mundo pode se converter em um administrador melhor de água, disse Kevin Kevin. As lições aprendidas neste mês consumindo apenas 25 litros por dia poderão ser aplicadas a todo o ano, afirmou. "Na América do Norte, todas as pessoas podem reduzir seu consumo de água em pelo menos 25 litros. Desafio as pessoas a se comprometerem com essa meta", ressaltou. Envolverde/IPS

sábado, 26 de março de 2011

Programas do governo buscam garantir água de boa qualidade para todos
 
beber �ua
Beber água/Foto:  Barefoot Photographers of Tilonia 

A água no Brasil é um bem abundante, porém desigual. Abundante porque o país é o principal reservatório de água doce do planeta Terra, com o percentual de 12% de toda água doce no mundo. No entanto, as águas estão concentradas em determinadas regiões, como a Amazônia, e não conseguem se distribuir para as outras localidades que sofrem com a escassez do recurso.

Para solucionar este problema estrutural do país, o governo federal implementou alguns projetos que buscam ajudar na viabilização de uma água de qualidade para todas as pessoas.

Água para todos

O Programa Água para Todos é um programa lançado em 2007 pelo governo da Bahia em consonância com incentivos federais e do Banco Mundial que tem procurado abastecer com água de qualidade e esgotamento sanitário todo o Estado brasileiro.

Cerca de R$ 2 bilhões de reais já foram investidos em obras para construção de adutoras, produção e distribuição de água, construção de barragens, adensamento de bacias e coleta e tratamento de esgoto em várias regiões do Brasil.

governo da bahia
Obras da Bahia no Água para Todos/Foto: Governo da Bahia

Em quatro anos de execução, o PAT garantiu o acesso de 2,8 milhões de pessoas aos serviços de abastecimento, e o recebimento por parte das 274 mil famílias cadastradas no projeto Bolsa Família da tarifa social para ligações residenciais, o que já soma 11% do total de ligações residenciais no estado da Bahia.

O semiárido baiano é um dos principais focos do programa, que procura frear o êxodo populacional dos moradores das zonas rurais para as cidades.

PROÁGUA

Uma outra iniciativa relacionada ao semiárido brasileiro é o Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos (PROÁGUA Nacional). Ele recebeu financiamento de R$ 200 milhões do Banco Mundial através de um empréstimo 7420-BR para ajudar todos os agentes do país que buscam melhorar a gestão dos recursos hídricos.

Este programa que contempla Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, está sendo acionado para incrementar a infraestrutura de distribuição da água nesses estados que compõe o semi-árido.

Na Bahia, três obras estão em andamento para beneficiar 160 mil habitantes das cidades de Jacobina, Saúde, Caem, Cafarnaum e Pedro Alexandre. Além dessas, a instalação do Sistema Integrado de Abastecimento de Água, de Planalto e Barra do Choça e a estação de tratamento de lodo são esperadas para este ano, que vai beneficiar 30 mil baianos.

Parques fluviais

O Projeto Parque Fluvial, iniciado em 2009, é um programa que visa contribuir para o abastecimento de água de qualidade para todos os dez municípios integrantes da Bacia do Rio São Francisco: Pirapora (MG), Bom Jesus da Lapa (BA), Barreiras (BA), Xique-xique (BA), Piranhas (AL), Prorpiá (SE), Januária (MG), Juazeiro/Petrolina (BA/PE) e Penedo (AL).

Todas essas cidades fazem parte do Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas em Situação de Vulnerabilidade e Degradação Ambiental. A percepção da comunidade desses locais é também uma prioridade do projeto, que incentiva entre outras coisas o ecoturismo e a educação ambiental da população ribeirinha.

parque fluvial
Parque fluvial já construído/Foto:
Amio Cajander

No Rio de Janeiro, as iniciativas voltadas aos parques fluviais estão começando. Carlos Minc, Secretário do Ambiente, informou em janeiro que o governo do Rio pretende construir cinco parques fluviais ao longo dos 95 quilômetros dos rios atingidos pelos deslizamentos ocorridos no estado no início deste ano.

Em Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, uma estrutura de recuperação de matas ciliares, fortalecimento dos corredores verdes e a implantação de ciclovias será montada na região, que vai realocar a população atingida pelos efeitos da tragédia.

Carlos Minc, atual secretário do Meio Ambiente do Rio, foi também o responsável pela instalação do primeiro parque fluvial do Rio em 2007, no Rio Guandu, com a plantação de 800 mil mudas. Em seguida, o Rio Macacu e o Piabanha foram desenvolvidos. Um parque em Santo Antonio está em fase de finalização e começará a operar até o final de 2011.

Água Doce

O Programa Água Doce é outro projeto que focaliza o problema de acesso a água no semiárido brasileiro. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, 96 mil pessoas de 69 localidades da ragião já tiveram melhorias com o programa.

Estabelecendo uma política pública permanente de acesso à água potável, o PAD já capacitou 500 técnicos nos estados para trabalhar na área, com o propósito de desenvolverem um sistema de recuperação e gestão da dessalinização ambiental.

O Água Doce, que já recebeu R$ 7,2 milhões em parcerias, produz também pesquisas na área de nutrição animal, piscicultura e cultivo da erva sal com o intuito de otimizar os sistemas produtivos na região.

Águas subterrâneas

A Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU) tem investido, juntamente com parceiros inter e intrainstitucionais, nos estudos e pesquisas sobre as águas subterrâneas no Brasil. O monitoramento dos aquíferos e o desenvolvimento de uma base legal para a gestão deles são medidas que estão sendo criadas para ajudar no manejo adequado deste recurso.

 aqu�ero alter ch�
Aquífero Alter Chão/ Foto: lubasi

O Programa Nacional de Águas Subterrâneas (PNAS), desenvolvido pelo MMA, foi desenvolvido justamente para traçar as diretrizes de cooperação no Brasil quanto a estes mananciais subterrâneos. O aquífero Alter do Chão, publicado no EcoD, foi uma das descobertas do programa, juntamente com especialistas da Universidade do Pará.

Recuperação das bacias hidrográficas

A SHRU está investindo também na conservação das bacias hidrográficas brasileiras. As bacias do Alto Paraguai e do São Francisco são as regiões que estão sendo revitalizadas atualmente pelo órgão.

A instalação de uma rede de viveiros para a produção de mudas e o macrozoneamento das Áreas de Preservação Ambiental (APA) das nascentes do rio Paraguai são outras obras do governo nesta questão.

rio s� francisco
Rio São Francisco/Foto: Danio Sanches

No São Francisco, microbacias para recuperação de áreas degradadas estão sendo instaladas, além do levantamento florístico e do plantio de mudas no entorno do local.

Programa Cisternas

O programa Cisternas é um outro projeto governamental que busca viabilizar água para moradores de baixa renda do sertão nordestino. Ele comprende a construção de uma cisterna, tecnologia popular para captação e armazenamento de água da chuva, junto aos domicílios das famílias da região, que convivem com a seca durante oito meses.

A cisterna armazena 16 mil litros de água e trabalha com um sistema de calhas direcionadas ao depósito do equipamento. O projeto produz ainda uma maior interação da família com a instalação dela porque eles são ensinados a construir suas próprias cisternas.

Desde 2003, o ministério do Meio Ambiente já apoiou a construção de mais de 320 mil cisternas em domicílios (para beber e produzir alimentos) e nas escolas.

A Evolução do Partido Verde Discutida em Porto Alegre

As recentes notícias sobre mudanças no processo de democratização interna é objeto de intensos debates entre os verdes. O PV do Rio Grande do Sul em 2009 promoveu um movimento que já se posicionava pela democracia interna no PV, intitulada Carta de Gravataí onde membros da sigla propunham a renovação no PV do RS e um aprimoramento no processo de escolha dos dirigentes da sigla. Veja a essência do documento "Nesse sentido, o grupo reunido em Gravataí entende a necessidade de "recomposição política" da Executiva Estadual do Rio Grande do Sul, de forma ampla e representativa; a criação de conselhos políticos regionais e/ou de um conselho político formado por um representante de cada Executiva Municipal, garantido a democratização e transparência no Partido Verde Gaúcho. Por isso, entendemos que é eminente a mediação da Executiva Nacional através da Coordenação Regional/Sul no processo de "reestruturação do PV Gaúcho", buscando um novo rumo no contexto político sócio-ambiental para o Rio Grande do Sul e o Brasil."

Diante deste movimento o PV Nacional reacomodou as lideranças, mas o anseio do Verdes que promoveram a Carta de Gravataí se alinham hoje com o movimento de dirigentes nacionais de 2011 que convergem para democratização do Partido Verde.

A ebulição destes movimentos mobilizam energias que indicam uma evolução do Partido Verde. Hoje contabiliza praticamente 20% dos votos para presidente através da candidatura a presidente pela sigla de Marina Silva.Isto indica o PV como terceira força na disputa eleitoral e com potencialidade real de disputa.

A evolução da sigla será fundamental para o projeto eleitoral de 2012 e 2014.

A crise de crescimento verde


O Partido Verde entrou em crise interna, seis meses após ter sua candidata a Presidente chegado em terceiro lugar, com quase 20 milhões e 20% dos votos válidos no país. Parece absurdo para quem vê de fora, mas faz todo o sentido para quem conhece a história do PV brasileiro.

O primeiro fato importante a ser ressaltado – e que não tem sido divulgado no noticiário – é de que as mudanças hoje cobradas "por Marina" (segundo a mídia) são muito anteriores à entrada dela no partido. Um exemplo disso é o que ocorreu no PV gaúcho, que na transição de 2009 para 2010 fez um grande movimento de renovação, que culminou com uma nova Executiva, que recém completou um ano agora em março.

É unânime dentro do PV nacional que os estatutos tem de ser reformados para incentivar a maior participação dos filiados, pois da forma como estão centralizam demais as decisões. Toda divergência que resultou na crise atual está na questão do "quando" mudar, pois a maioria da atual direção votou pela prorrogação do próprio mandato adiando a revisão estatutária e isso não corresponde à visão que os líderes mais representativos tem de como deve ser o PV. Esses líderes incluem candidatos com grande votação em São Paulo e Rio, onde o partido é mais forte (Gabeira, Sirkis, Fábio Feldman, Ricardo Young), bem como as principais lideranças verdes nos outros estados onde os verdes são fortes, como por exemplo Minas Gerais e Pernambuco. Todos eles redigiram em conjunto o manifesto "Transição Democrática", com as principais mudanças estatutárias propostas.

Na reunião de lançamento do manifesto estavam presentes todos os deputados estaduais de São Paulo e 8 dos 14 deputados federais. Quase todos os líderes citados estão há muitos anos entre os verdes, dos quais vários são fundadores, e acreditam que a mudança estatutária não pode ficar para 2012 por ser um ano eleitoral – o que é de uma lógica irrefutável. As questões internas devem ser resolvidas em 2011, para que o Partido Verde corresponda à confiança da população que depositou sua confiança em sua candidata presidencial em 2010.

Marina tem repetido que todo esse processo já estava em curso quando ela foi convidada, mas não é isso que vem sendo destacado no noticiário. É da natureza da mídia as especulações sobre saída do partido, sobre acusações recíprocas, enfim, tudo isso faz parte do modo habitual de serem redigidas as notícias. Não podemos evitar que isso seja atribuído a ela, mas precisa ser dito com toda clareza, em alto e bom som, que a chamada "Transição Democrática" é uma reforma das regras internas ansiada há muitos anos pela militância verde, a cujo coro de vozes ela veio apenas se somar.

Existe, sim, a perspectiva do PV vir a se tornar uma "terceira via" política no Brasil. Para que se mostre capaz disso, precisa primeiro reciclar a si mesmo e se tornar absolutamente coerente com o que prega para o país. A crise atual, que pode parecer absurda por expor o partido a críticas de quem acredita que ele já deveria ser perfeito, é uma crise que não aconteceria se não houvesse o crescimento, que traz consigo maiores responsabilidades. Há pressa de mudar, sim, pois é isso que a população espera de quem se propõe a enfrentar os problemas do país. Quem não tiver coragem para enfrentar diretamente os próprios problemas, não pode se habilitar a enfrentar os que a sociedade necessita. O PV prega um modelo de desenvolvimento "do século XXI" e por isso precisa ter, desde já, estatutos e programa do século XXI.